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O mundo da Ch@p@

Water

A.N, 09.10.06


Já cativadas por quase duas horas de belíssimas paisagens e da disputa entre uma tradição cruel e uma tocante história de amor, eis que fomos surpreendidas por um final surpreendente e emotivo, quase que desenquadrado da Índia daqueles dias e, provavelmente, de muitos locais da Índia actual.

Desprevenidas, não fomos capazes de conter as lágrimas e as mãos trémulas apressaram-se a secar os vestígios de comoção. Afinal era só mais um filme...apesar da história não ser tão fictícia quanto se gostaria.

“Water” traz-nos o relato da situação das viúvas na Índia, onde crianças vítimas de casamentos “combinados” vêem as suas vidas, abruptamente, interrompidas pelas mortes dos maridos que, em muitos casos, não recordam existir ou com os quais ignoraram ter algum dia casado.

De acordo com a escrituras de Manu, uma viúva tem três opções: ou se atira para a pira onde arde o corpo do marido defunto e acompanha-o na viagem para a eternidade; ou vive em reclusão, mantendo-se o mais pura possível para poder alcançar a “pureza na eternidade” e voltar a reunir-se com o marido ou, caso os familiares assim o consintam, poderá casar com o irmão mais novo do defunto.

Durante duas horas somos introduzidos aos maus tratos, à solidão, à negação de todos os prazeres e à ausência de dignidade que pautam a vida das mulheres cujo infortúnio foi ditado pela morte dos respectivos cônjuges.

Independentemente da idade, da vontade ou da existência de leis que lhes permitiam uma existência totalmente distinta.

A Índia nos tempos de Gandhi e do advento das suas ideias, os últimos anos antes da independência, o despotismo dos brâmanes, os antagonismos das tradições, a crueldade das infâncias desperdiçadas, a fé e o peso dos costumes, em contraste com os ditames do coração, são os ingredientes que fazem deste filme, provavelmente, um dos melhores deste ano.