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O mundo da Ch@p@

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A.N, 29.10.08

 

 

Sofro de um "delay".

Não respondo às mensagens e emails atempadamente; a lista de afazeres continua a aumentar; as iniciativas convertem-se em projectos de médio ou longo prazo; chego atrasada e não me organizo.

Sofro de um "delay", à semelhança de um jogo passado na sport tv e como tal, não obstante a inquietação, o resultado é sempre o mesmo: zero a zero.

 

Uma manhã real que bem poderia ser fictícia.

A.N, 29.10.08



O dia ainda mal começou e já ela se dirige a Lisboa, depois de deixar o filho na creche, entregue aos cuidados da auxiliar autoritária, com quem discute acerca do incumprimento do horário do lanche.

Entra no IC19 já atrasada e impaciente, no trânsito, pensa na cabra da chefe que certamente a bombardeará com perguntas acerca do estado da contabilidade; pensa no ex-marido que uma vez mais se atrasou no pagamento da pensão de alimentos; no facto de o cabelo precisar urgentemente de novas madeixas e da persistência da D. Cristina em encerrar o cabelereiro às 19 horas, altura em que se encontrará novamente parada no IC19 de regresso a casa, depois de mais uma jornada de desmotivação no emprego.

Estaciona o seu carro comprado a leasing nas traseiras do edificio onde trabalha deixando uma distância considerável do carro que fica imediatamente atrás, pois não vá ele complicar-lhe a saída. Os que vêm depois, azar, tivessem chegado mais cedo e não teriam problemas de falta de espaço para estacionar.

Nisto chega a fresca da jovem que trabalha no edificio contiguo ao seu e que descuidadamente toca no seu carro exausto da travessia do IC19.

Não há danos a registar, mas ela não contém a sua irritação.

Conta das boas à moça que aflita lhe pede desculpa.

Desculpas não chegam. Dá azo à indignação, clama por cuidado, culpa a jovem por todos os toques e maleitas sofridos nas redondezas; diz que atitudes daquelas são impossíveis.

E grita, ai meu Deus como grita. Grita para si, para se despertar do torpor em que vive; para projectar numa estranha a fúria do seu descontentamento e ainda assim encontra algum alívio.


A jovem encolhe os ombros, não podendo negar um certo desconforto. Repete os pedidos de desculpa e remete-se ao sempre sensato bom senso.

Afinal são oito e dez da manhã e aquela senhora já teve que percorrer todo o IC19.

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A.N, 28.10.08

A hipocrisia, mais do que uma opção, é uma inevitabilidade.

Não somos hipócritas com os próximos porque escolhemos sê-lo, mas porque as regras da vida societária assim o impõem e a sinceridade, nos dias que correm, é um luxo a que nem todos devem ter acesso.

Uma meia palavra em vez de uma frase inteira poupa-nos inquietudes futuras, desconfortos desnecessários, danos colaterais evitáveis.

A falta de hipocrisia pode ser uma virtude, mas no cômputo geral, possuí-la pode revelar-se milagrosa e facilitar o caminho.

Não é falta de carácter, mas apenas um instinto de sobrevivência.

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A.N, 23.10.08

No outro dia encontrei uma conhecida no ginásio.

Ia a sair e já mesmo depois de evitar a colisão frontal com duas meninas de tenra idade, demasiado irrequietas para a hora da noite tardia, de relance vejo a minha conhecida despojada de roupas.

Entre a correria da saída e o momento desconfortável da nudez, não pude evitar fugir sem cumprimentar, em virtude de um embaraço que não pude evitar sentir.

 

Na Roma Antiga, os banhos e saunas eram lugares de confraternização, de convivio, de negócios. Eram momentos de lazer partilhados, despojados de pudores.

Se o faziam naquela altura, como explicar a falta de naturalidade do nosso "eu" mais natural?

 

São estes, pois, os momentos em que não consigo deixar de pensar no quão danoso se pode converter este sentimento de culpa judaico-cristão que nos é infligido pela sociedade...

 

Fale aquele que gosta de se ver recém-nascido numa fotografia tirada no banho!

Enquanto Salazar dormia

A.N, 22.10.08

A minha vizinha resolveu simplicar a vida: em vez de gastar as suas técnicas gramaticais e partilhar o arrojo do seu vocabulário, aderiu ao traço simples de uma B.D hilariante. E lá dizem (e bem!) os publicitários que uma imagem vale mais que mil palavras.

A minha ideia de simplificar a vida passa por deixar de lado a Anna Karenina e devorar as palavras leves do enredo fácil do Domingos Amaral e da história de espiões que a interesseira Lisboa da Segunda Guerra Mundial disfarçou.

Facilitar a minha vida, também passa, por rir nos momentos de adversidades; por manter um optimismo temperado com relutância; por tentar não pensar demasiado nas variáveis que a equação da vida permite.

 

Não sei se conseguirei, facilitar-me a vida, assumindo-me, inevitavelmente como uma alma complexa.

 

De momento, mergulho nas aventuras submersas de um sono profundo de Salazar.

E, venho, por este meio, louvar a B.D da minha vizinha.

Paris

A.N, 20.10.08

Paris c´est chanson;

Paris c´est emotion;

Paris c´est pasion.

 

É também o lugar onde os microcosmos pessoais se tocam e se perdem para sempre; onde os destinos anónimos ditam as regras da sorte dos desconhecidos; onde a cidade de luz se ilumina nas experiências de cada um de nós.

Paris, de Cédric Klapisch, é a Lisboa de todos os nós; a histórias banais vividas intensamente pelos seus personagens e cândidamente ignoradas por aqueles que desconhecem os contornos de cada vivência individual.

Simples, quotidiana, real, próxima.

 

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A.N, 18.10.08

 

Quais as probabilidades sérias de depois de uma sexta-feita de cão, deparar-me no piso -3 do aeroporto da Portela, a ser perseguida e insultada, tal como os restantes condutores daquele parque de estacionamento, por um agente de autoridade visível embriagado?

 

O encerramento em grande da semana ou o prenúncio de semanas com loucuras ainda maiores?

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