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O mundo da Ch@p@

Perdidos para sempre

A.N, 31.05.10

 

 

 

 

 

 

 

 

Em duas horas e meia trau, diz adeus a seis anos de dúvidas, transtornos e paragens cardíacas.

Recolhe e amontoa as perguntas, os simbolos que não viste e as metáforas que a custo compreendeste. Fecha a escotilha, memoriza os números, viaja no tempo e mais do que tudo recolhe as preciosas recordações dos teus companheiros porque no final do caminho apenas estas permanecem imutáveis.

Ontem o Lost acabou em nossa casa e com ele acabou-se o quebra-cabeça com meia dúzia de anos que nos continuará a apaixonar.

A ilha partiu e apesar das parcas respostas com que nos decidiu honrar, permanecemos mais perdidos do que nunca.

Hoje

A.N, 31.05.10

 

Vigora a lei que impõe que o telemóvel permaneça ligado todo o dia e classifica como positiva a conectividade permanente . Os cigarros sociais sobrepõem-se às sobremesas de aniversário, aos dias de gazeta e de doença fingida, aos ímpetos e à sinceridade.

Pedem-nos que joguemos as cartas com cautela, porque qualquer trunfo é um segredo e as tabelas da batalha naval tomaram o lugar das cartas de amor.

Exigem-nos que nos convertamos em jogadores, provavelmente cavaleiros ou bispos, uma vez que a idade não nos permite invejar rainhas e reis e para a certeza e solidez das torres ainda nos faltam uns anos.

Enganamo-nos com as jogadas a que sem saber aderimos, ilusionando a visão com promessas de férias e noites de conforto.

O futuro decide-se hoje. Hoje, porém, não nos é permitido imaginar.

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A.N, 17.05.10

 

 

Bento tentou, mas as suas palavras de condenação ao casamento homossexual perderam-se no Santuário de Fátima.

Cavaco Silva promulgou, hoje, a lei que aprova o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a qual, a partir da sua entrada em vigor, será susceptível de repor a justiça em situações onde o preconceito e má formação moral, muitas vezes, teimavam em ditar as regras, garantindo a terceiros uma liberdade que não só não colide com a minha (e que herdei por nascer heterossexual), como um dia servirá de exemplo às gerações vindouras, mostrando que a igualdade começa na cabeça de cada um, com a benção de um Estado que não fecha os olhos a uma realidade.

Numa época em que Portugal nos dá poucas ou nenhumas razões para sentir orgulho, é encorajador sentir que aos poucos vamos evoluindo.

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A.N, 17.05.10

Há uma regra universal implícita que passa pelo uso de auriculares na rua.

Geralmente e partindo do pressuposto que os  utilizadores de auriculares não recorrem a estes por alguma razão estética, os que optam por se abstrair do barulho da rua, fazem-no porque desejam alhear-se e porque não querem falar nem que se lhes dirija a palavra, optando por deixar os fios do respectivo ipod ou leitor de mp3 pendurados ao peito de forma a que a essa mensagem seja cabalmente transmitida aos restantes transeuntes.

As pessoas que ouvem música ao caminhar não querem ser paradas, não querem ouvir oportunidades únicas de aderir a um cartão de crédito com vantagens francamente vantajosas, não querem ser indagadas acerca da localização de uma rua ou serviço de finanças e certamente não querem contribuir para a Unicef, à saída do metro, quando já vão atrasados para o emprego.

Vão apressadas, determinadas e por instantes abstraídas da sua realidade.

E quando despertar a mente implica carregar no botão da "pausa", enrolar fios e pedir para repetir as palavras que se perderam entre o toque no braço e o silêncio abrupto, a boa vontade passa a estar apenas ao alcance de pessoas virtuosas.

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A.N, 12.05.10

 

O dia começou com um relato detalhado de uma seguidora (literalmente!) do Papa que aguardava que o mesmo se despertasse para saudá-lo com um olhar de admiração.

A senhora, emocionada, relatou em directo e perante um jornalista atónito, as suas perseguições a Bento XVI  do dia anterior, bem como episódios idênticos vividos pela mesma narradora aquando da visita a Portugal dos dois Papas anteriores.

 

O dia ameaça acabar com uma imagem alegórica à porta de um honrado estabelecimento comercial de Ourém: um peluche cor-de-rosa que ao ser acariciado repete uma oração à Virgem Maria.

 

Corrijam-me se estou errada, mas há algo de muito perverso nesta seita.

Y Viva España

A.N, 11.05.10

 

 

 

Reza a lenda que a diferença de mentalidade entre portugueses e espanhóis é abismal, devendo-se a esta disparidade de ideias todo o fosso económico e atraso no nosso desenvolvimento. Com a idade, porém, uma pessoa aprende a desmistificar os preconceitos e cedo se apercebe que um português típico apenas se digna a proceder a comparações quando o resultado desta conduz a um resultado necessariamente negativo para os seus compatriotas, país, hábitos ou vícios.

Não aspirando a vastos conhecimentos históricos ou económicos, ouso arriscar que a localização geográfica de Espanha e a dimensão do seu mercado interno poderá a explicar a velocidade da evolução daquele país comparativamente ao desenvolvimento de Portugal.

Se a perspectiva do mundo nos separa, inquestionavelmente, dos países nórdicos, de Espanha parece-me que o que mais nos distancia é apenas a forma como encaramos o dia a dia, o que não significa que o  grau de produtividade dos espanhóis seja maior , mas apenas que a nossa qualidade de vida poderia sê-lo.

Passagens por Madrid recordam-nos, por vezes, aquilo que poderíamos ter sido, o povo que poderemos vir a ser e o porquê de ainda não o sermos.