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O mundo da Ch@p@

Tempo útil

A.N, 23.11.10

Por definição, consistirá no tempo eficazmente utilizado. Atempado. Certeiro. Valioso.

Poderá, por vezes, ser apenas aquele momento que nos resta ou as horas que nos sobram.

Será  o que fazemos com ele? Ou apenas o que sobra quando nos deixam fazer qualquer coisa importante com ele?

O que resta?

O que importa?

O que merece a pena?

 

Ou simplesmente o que já se tem?

Eat Pray Love

A.N, 14.11.10

 

À excepção do erro de casting do Bardem (que ninguém espera que fale português açucarado e que seja um amante delicado!), gostei mais do filme do que do livro.

Afinal, digerir a história de uma depressão em 90 minutos é mais simpático do que fazê-lo ao longo de 300 páginas.

A zona cinzenta

A.N, 14.11.10

 

A idade torna-nos mais selectivos nos amigos, quer se tratem de novos ou velhos amigos.

Os novos são fácilmente excluídos se algum traço da sua personalidade nos deixa antever incompatibilidades futuras ou se os pontos de interesse em comum , à partida, são escassos.

 

Os antigos, porém, começam a ser arrumados e catalogados em espécies e secções, à semelhança da organização que a dona de casa compulsiva impõe na sua despensa: os casados de um lado, os casados com filhos ao fundo da primeira prateleira que na linha da frente apresenta os solteiros ao lado dos divorciados, os divertidos numa zona de fácil alcance, os complicados ou mais sensaborões na última prateleira à esquerda, onde os frascos com as bolachas costumam ficar esquecidos até que uma visita gulosa nos pergunta se temos algum doce para trincar.

 

Consoante a disponibilidade de tempo e emocional, voltamos a seleccionar entre os amigos disponíveis aqueles que se adequam ao nosso ritmo de vida actual, à nossa predisposição momentânea e ao tipo de programa a realizar.

Partilhar a companhia de alguém pelo simples prazer de fazer deixa de ser natural, numa época em que o mundo nos exige eficiência.

Inevitavelmente tendemos a escolher aqueles que no momento em causa coincidem connosco fisica e emocionalmente, preterindo a companhia daqueles de quem as nossas ideias preconcebidas e não necessariamente justas nos afastam.

 

A chegada aos trinta anos faz-nos compreender que temos que escolher equipas. Permanecer neutros e confiar na escolha aleatória dos elementos fortes das equipas adversárias já não basta para sermos aceites. As escolhas são feitas e a partir do momento em que se consolidam não há retorno possível.

Com o anel, alegadamente vem a incapacidade para compreender o flirt e a solidão; com o emprego consumidor desaparece a capacidade de acreditar no altruismo e nos valores morais elevados que alguns abençoados ainda defendem e acreditam porque abençoadamente nunca conheceram o lado escuro da realidade e com os filhos ou a antecipação deles deixamos de nos poder sentar à mesa e ouvir confissões de verdades incómodas porque a barricada que um dia nos uniu, hoje insiste em separar-nos.

 

Não queria imprimir o meu nome na camisola da equipa errada, mas ao que parece já não é possível escolher a camisola cinzenta.

 

 

 

 

 

 

Diário da nossa paixão?

A.N, 04.11.10

 

 

É surpreendente como os mais simples sucessos de bilheteira podem mudar a nossa concepção do mundo e das relações humanas, especialmente se consumidos em dose massivas em plena pré-adolescência.

Uma história simples, um amor díficil e exacerbadas demonstrações públicas de afecto, temperadas com inverosímeis desencontros, mentiras e um eterno final feliz, de preferência com dois velhinhos de mãos dadas que continuam a amar-se loucamente cinquenta anos depois de casados.

As paixões que duraram meio século e que tive o privilégio de até agora conhecer são escassas e carregadas da sua dose de obcessão, obstinação, irracionalidade e masoquismo. Se é nisto que se converte o amor febril que nos tenta vender o Nicholas Sparks, prefiro um xanax e um bom livro para garantir a tranquilidade da terceira idade.

Os amores que conheço, na vida real, são substancialmente mais sensaborões. E aqueles que recorrem com frequência a desproporcionadas proclamações de amor, das duas umas: ou são sol de pouca dura ou os microfones abafam os sons da discórdia que ousam fazer-se ouvir nos momentos de alegado conforto relacional.

Que o diga o JG, um dos rapazes sensação do meu liceu que um dia, cansado de nos fazer suspirar nos corredores com o seu look James Dean, resolveu chegar mais cedo à escola e afixar em todas as paredes, postes e quadros disponíveis um "Cristina, adoro-te!" para uma insípida adolescente meio grunge que não obstante reagiu como uma estrela de cinema e atirou-se-lhe aos beijos assim que passou o portão da escola.

O namoro daqueles dois começou ali e ainda durou uns anos.

Quinze anos passados, porém, constato que a Cristina há muito que deu um chuto no cú do JG; JG já engordou uns quantos quilos; a Cristina continua insípida e francamente menos bonita, quem sabe até casada com aquele que provavelmente hoje jura amar como nunca amou ninguém, mas que continua sem conseguir dar-lhe verdadeiramente aquilo que ela precisava de encontrar num marido.

Isto para dizer que não há amor que resista sem paixão, nem amor que possa viver sempre em paixão.

A felicidade não se proclama, nem sente necessidade de o fazer. Da mesma forma que os contos de fadas apenas se cristalizam na ficção.

O amor é um bolo de côcô morno à espera do teu regresso; uma casa cheia de gargalhadas e a inscrição dos nossos nomes nos livros da nossa estante.

Pode não fazer ensopar lenços de papel, mas faz-nos pensar na próxima vez que discutirmos.

 

...

A.N, 02.11.10

 

E porque todas as histórias têm dois lados, agora na SIC, é contada a versão que enquanto turista, não tive coragem para conhecer de perto.

...

A.N, 01.11.10

As descobertas de um viajante com limitações de tempo e exclusivamente adjuvado pelo Lonely Planet correm, por vezes, o risco de redundar em tremendos falhanços.

 

Tendo decidido confiar cegamente nos conselhos do Lonely Planet, decidimos, uma tarde, apanhar um autocarro que partiu da estação de autocarros central de Tel Aviv (que para aqueles que ficarem hospedados na parte norte cidade deverá ser uma segunda opção, uma vez que a estação de Arlozorov serve condignamente aquela parte da cidade) e partimos para Jerusalém, onde vinte minutos depois partimos num outro autocarro em direcção ao Mar Morto.

 

A ideia era finalmente conhecermos o mar que apesar de paradoxalmente não nos deixar mergulhar ou nadar, nos ilustrava o imaginário, com a perspectiva de aí podermos dedicar-nos, em simultâneo, à leitura do jornal e a flutuar.

 

O paraíso, contudo, ficaria adiado para uma outra oportunidade.

As praias do Mar Morto, pelo menos a julgar pelo que ficámos a conhecer do lado israelita, são privadas, o que significa que apenas as podemos aceder mediante o pagamento de uma taxa de entrada ou o ingresso num dos spas da zona.

 

Desconhecedores, acolhemos com agrado a sugestão do Lonely Planet de visitar a primeira praia acessível de quem viaja de Jerusalem: Kahlia Beach.

 

O que aquele guia, porém, não nos disse foi que o autocarro que nos levou àquela zona do planeta pára a mais de dois quilómetros da praia que por sua vez está pejada de turistas de avançada idade,  dispõe de uma área de banhos reduzida e de água turva e suja.

 

Ainda assim e apesar da desilusão inicial, com alguma capacidade de abstracção, flutuar com as montanhas da Jordânia do outro lado da margem a saudar-nos fez-nos esquecer o percurso palmilhado, num primeiro momento, sob uns arrasadores quarenta graus e num segundo momento, sob a mais profunda escuridão, de regresso a uma paragem de autocarro não assinalada ou iluminada, onde cedo descobrimos que os autocarros podem ou não (!) parar.

 

Quarenta minutos de espera na escuridão do deserto, sem certezas de chegar a algum porto, felizmente a boleia chegou na figura de um bom pai de familia de Jerusalem, patriarca de uma familia com 3 filhos que nos informou que os autocarros naquela zona são erráticos e que a boleia ainda se pratica, com regularidade, em Israel.