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O mundo da Ch@p@

Presidenciais 2011 - II

A.N, 20.01.11

 

 

Arruadas...arrufadas...arrufos... é tudo a mesma coisa.

 

 

 

Ps. Que conste em acta que de acordo com as imagens que inundam a minha televisão, há muitas multidões desocupadas que em pleno horário de trabalho, estão dispostas a participar em "arruadas".

...

A.N, 19.01.11

 

Não me assusta que multidões saudosistas votem em Cavaco Silva nestas eleições presidenciais. Não me choca que pessoas pouco instruídas e ausentes do panorama político nacional compactuem com os discursos de apelo ao apoio da mulher ao seu marido, com frases esquivas e atabalhoadas, com discursos redondos e pateticamente pouco fluídos.

Confesso que até compreendo que a demagoga afirmação (ou seria confissão?) de que Cavaco vem do povo o aproxime, realmente, das gentes humildes que sob o disfarce da desculpa da ausência de opção, decidam votar nele. Como diz o mesmo povo humilde do país do meu marido: "Mas vale malo por conocido que bueno por conocer".

 

Mas que votem em Cavaco Silva pessoas medianamente esclarecidas, inteligentes, exigentes e com memória de um passado próximo, parece-me preocupante.

Com ou sem BPN, Cavaco pretende comer uma fatia e ficar com o bolo todo. Estar na política e fingir-se um terceiro alheio; imiscuir-se em assuntos menores tornando-os alegoricamente sérios; dar milho aos tolos enquanto se comporta como um agente novo no meio, como alguém que nunca esteve na política e pior, como alguém sem qualquer nível de responsabilidade perante a crise económica e financeira em que nos encontramos estagnados.

 

Alguém que um dia desempenhou as funções que Cavaco acumula no curriculum tem a obrigação - se não moral, pelo menos cívica - de assumir uma postura mais franca e não fingir uma posição mais fraca.

Alguém com a responsabilidade do curriculum de Cavaco não pode optar por declarações medíocres, nem pode fingir que a censura social e o julgamento público não o afecta, nem justificam tomadas de posição directas.

 

Um político como Cavaco não deve corresponder ao perfil de político que Portugal carece de exportar, nem deve corresponder ao perfil de Presidente com o qual um cidadão esclarecido se deve conformar.

 

Um Presidente com as características de Cavaco Silva, num país onde desafortunamente já temos José Sócrates, é triste.

E facto de se votar nele, considerando essa opção um mal menor, não pode deixar de merecer censura e de nos preocupar pelo futuro desta quase absurda democracia.

 

 

 

Inside Job - A Verdade da Crise

A.N, 15.01.11

Todos os dias o cidadão honesto acorda de manhã, toma o pequeno-almoço, deixa recados na mesa da cozinha, corre para o escritório e aproveita a hora de almoço para tratar da lista de assuntos pendentes que emolduram o monitor do seu computador. Trabalha, no mínimo oito horas por dia, mais ou menos afincadamente consoante a motivação actual e o seu nível de profissionalismo, corre para o supermercado antes de regressar a casa, trata do jantar, dos eventuais filhos, comenta as notícias e os mais recentes escândalos e adormece exausto.

 

Esta rotina repete-se, incessantemente, com mais ou menos percalços, todos os dias, até ao final do mês, em que uma transferência bancária, mais ou meos choruda o faz esquecer as dores de cabeça e das costas, os calos dos pés e o cabelo a precisar de tratamento. Trabalhou (ou, pelo menos, fingiu bem) e foi recompensado, ainda que parcialmente, pelo produto daquele esforço.

 

Uma vida honesta, de trabalho por conta de outrem, obedece, quase na maioria dos casos, a este padrão, sem prejuízo de alguns comportamentos desviantes que em nada fazem alterar o final da história.

 

Alguém que jogue limpo, que cumpra as regras, não assuma posições de poder nem suscite invejas com sucessos repentinos, não fica rico, mas paga as contas, dorme relativamente descansado, vai de férias 3 semanas por ano e ainda se permite um extravagante fim-de-semana no estrangeiro quando as promoções das companhias low cost lhe permitem.

Um trabalhador honesto, com esforço, controlo orçamental, destreza e prudência consegue sobreviver confortavelmente.

 

Imagine-se, agora, que esse trabalhador honesto foi investindo as suas magras poupanças em instituições bancárias que se financiaram, erroneamente, através de bancos de investimento que por sua vez obtiam o seu próprio financiamento através de produtos virtuais como derivados, cujo risco se encontrava assegurado pela contratação de seguros de risco, igual e perfidamente, virtuais, pomposamente designados por credit default swaps.

Pense-se ainda, que toda esta cadeia funciona exclusivamente numa lógica de ganância e maximização dos lucros e que esta, no limite e através dos seus complexos esquemas paralelos e fraudes, se destina unica e exclusivamente a proteger quem financia, sem qualquer tipo de cautela, regulação estatal ou preocupação humana ou financeira, relativamente a quem precisa de financiar.

 

Os alertas dos perigos e riscos do sistema perdem-se nos corredores de palácios presidenciais e em jantares de lobbying, o Estado e as doutrinas económicas  defendem a manutenção da não interferência do Estado nas políticas financeiras, em troca de favores financeiros pessoais e de forma intelectualmente desonesta, ao mesmo tempo que em Wall Street distribuem-se milhões de dólares a administradores, presidentes, analistas e consultores que trabalham afincadamente para manter a aparência de normalidade e seriedade.

 

Um dia, porém, o sistema colapsa.

 

O trabalhador honesto, sem compreender a razão nem o sucedido, perde de um momento para o outro as suas poupanças. Meses mais tarde, a economia entra em recessão, o procura diminui e o seu trabalho, especialmente quando não qualificado, deixa de se justificar.

O trabalhador perdeu sem ter jogado, sem sequer lhe terem explicado as regras do jogo, sem compreender como é que produtos virtuais e baseados em premissas imaginárias provocaram danos mundiais económicos e socais, até à data não contabilizáveis.

 

O Estado é então chamado a intervir, mas não a regular.

Injecta-se capital, proveniente dos impostos dos contribuintes que além de prejudicados por uma crise que não criaram, são agora chamados para resolvê-la, financiando o mesmo banco que lhes executa as hipotecas e que menos de um ano depois distribui bónus aos seus administradores, analistas e consultores de milhares de dólares.

 

Esta é a história do filme Inside Job - A verdade da crise, que lamentavelmente não consubstancia uma história de ficção.

 

No final do filme, resta um estômago apertado, a certeza de que não há um culpado a apontar, nem ninguém totalmente inocente. À saída do cinema resta a desilusão, de ter acreditado que uma vez mais a humanidade racional iria aprender com os seus erros e  emendar a mão, a ridícula esperança que o Direito, aliado à necessidade da sociedade de se ver regulada, iria prever normas de refrear a ganância e garantir que no futuro, o trabalhador honesto da nossa história, poderia dizer aos seus filhos que o futuro que lhes espera é risonho.

Coisas que em 2011 continuo sem compreender

A.N, 05.01.11

 

1. Mulheres que se apaixonam por homens pouco inteligentes;

2. Homens que preferem mulheres pouco faladoras e com queda para o dramatismo;

3. Pessoas que tratam os avós e os pais por "tu" e os filhos por "você";

4. Pessoas que consideram ser socialmente aceitável observar e constar a um terceiro que esse (o terceiro!) está mais forte (a.k.a gordo);

5. As novas mensagens dos parquímetros da EMEL que anunciam, junto à ranhura das moedas, que são os cidadãos cumpridores (leia-se: pagantes) que justificam o pagamento pago e a manutenção daquele sistema de cobranças.

...

A.N, 03.01.11

Aos vinte e muitos anos, poucas coisas têm a capacidade de nos fazer abalar o ego do que o sucesso de alguém da nossa idade.

Não que o sucesso alheio não incomode qualquer pessoa, independentemente da idade, uma vez que acredito, ou talvez seja apenas a minha censurável má formação moral a falar, que este deixa sempre um quase indelével sabor a cobiça nos lábios secos , provavelmente de tanto falar e de pouco fazer.

Parte-se então para as justificações do momento, para a indulgência gratuita e reconfortante.

Se a pessoa bem sucedida é mais jovem ou tem muletas paternas, o desconforto torna-se relativo ou pelo menos facilmente justiticável: é bem sucedido porque pertence a outra geração; porque tem contactos; porque tem dinheiro, porque tem um atrevimento geracional ao qual a nossa educação tradicional não nos permitiu aceder.

Se o sucesso provém do facto desse alguém ser desportista, as medalhas que alcança devem-se, provavelmente, a uma condição física incomparável e lutar contra a genética é um esforço inglório.

O problema coloca-se quando o sucesso alheio apenas se explica pelo esforço e determinação.

E se o crédito que dão ao miúdo dos vinte e muitos se encontra justiticado pelo trabalho árduo de que abdicámos e pelos sacrificios que não fizemos?

Justificamo-lo com a tristeza que a pessoa aparenta e a presumível alienação social e com o apanágio da vida simples e sorridente.

Mas, se o sucesso, afinal, não se mede em títulos e extractos bancários, porque razão o fruto do quintal do vizinho parece sempre mais apetecível do que aquele que acabámos de colher do nosso jardim?