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O mundo da Ch@p@

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A.N, 24.04.13

 

Correndo o risco de desiludir quem me lê, por voltar ao tema criançada e temas conexos , cinco meses voaram e chegou a altura de fazer um balanço dos mesmos. Assim, para os menos interessados no tema, bem como para os menos apreciadores de bebés, azar! Mudem de página, voltem para o facebook e esqueçam lá tudo isto que eu entendo-vos. Até há um ano atrás, a criançada não era, de todo, a minha chávena de chá, como dizem os ingleses.

 

 

Quando, durante a gravidez, me questionei acerca do período de licença de maternidade que pretendia gozar, a decisão foi peremptória, tal como o são a maioria das decisões impetuosas e tomadas de forma pouco esclarecida: cinco meses! E mais um para o pai que isto é para se gozar até ao final. Na altura, este período parecia uma enormidade:150 dias para concretizar tarefas de casa adiadas sine die, 150 dias para me dedicar, exclusivamente, a um bebé que não conhecia e a uma familia desconhecida que já era minha.

 

Com a chegada do M. a noção de tempo alterou-se definitivamente. Os primeiros dois meses não se sentem (ou se calhar sentem-se demasiado). Encontram-se envoltos em névoa, em dúvida, privação de sono e hipersensibilidade. Foram meses de execução mecânica e desumana de tarefas, motivada por um único pensamento de alento: com o tempo tudo isto melhorará, tudo isto se tornará mais fácil.

 

E assim foi. Tudo se agilizou, as rotinas engrenaram-se, as mudanças sucederam-se.

 

Porém, as tarefas adiadas sine die, assim permaneceram. O que não foi feito antes corre agora o risco de ficar por terminar eternamente. As viagens, as visitas a alguns museus, a contratação de novos fornecedores de electricidade e gás mais baratos e a organização da papelada da casa continuam por picar na minha lista de to do´s.

 

Os dias passaram a organizar-se em listas, notas, alertas no telemóvel, emails com estrelinhas.

As tarefas cedem aos mimos, aos passeios na praia, à exaustão do final do dia. A disponibilidade, física e psicológica, ficou comprometida. Os livros demoram meses a ser lidos, as revistas e jornais ficam a meio, o caos é permanente.

 

Agora a vida real está à porta e em casa, durante o horário de trabalho, outra vida se desenvolverá na minha ausência. O M. sentar-se-á pela primeira vez sem que eu assista, rebolará e quem sabe gatinhará, pela primeira vez, na minha ausência. Não é dramático, claro, mas dá pena e custa muito, mais do que alguma vez imaginei, mais do que alguma vez pensei que pudesse custar.

E, agora, olhando para trás, cinco meses parecem ridículos, pequeninos, demasiado curtos, especialmente porque não foram pensados para executar tarefas, actualizar listas de tarefas ou cumprir calendários, mas apenas para aproveitar e gozar o crescimento de um pequeno ser que não precisa de muito, para além da nossa total disponibilidade.

 

Que recomecem os jogos. O balanço está feito e é positivo.