Nós, os fóbicos!
Guardamos e respeitamos a fobia de cada um, sem questionar ou emitir juízos de valor, uma vez que estamos permanentemente conscientes da cumplicidade única que nos une a esses seres e nos afasta demais.
Este é um relato “real” de um momento “surreal” .
Relativamente aquele dia , não sei precisar se Caranguejo estava no quadrante de Saturno ou se o ascendente Leão contribuiu para o efeito.
Inegável é o facto de que a conjuntura estava perfeita e veio corroborar a minha teoria da conspiração de que a nós, doentes fóbicos, tudo nos pode passar.
Caminhava eu tranquilamente na Av. António Augusto de Aguiar, maravilhoso local de betão armado e de elevadas concentrações de monóxido de carbono, quando subitamente os vislumbro.
Eram grandes, coloridos, pomposos e ameaçadores.
Dirigiam-se orgulhosos para o eixo da via, naquela pose de arrogância e ironia que lhes é tão característica.
Assustadores! Irritantes! Ameaçadores!
No momento em que aguardo a mudança do sinal dos peões junto à passadeira, faz-se sentir uma rajada de vento mais forte que os coloca a uma distância mínima de mim.
Suores, tremeliques, o reflexo de levar as mãos aos ouvidos, o instinto de protecção no seu apogeu.
Foi então que tudo aconteceu.
Os pneus derrapantes, o ranger do motor, a buzinadela.
O carro chegou a uma velocidade elevada, apanhando-os de desprevenidos.
As explosões!
Primeiro lentas, depois mais rápidas e subitamente os tiroteios mortíferos.
O tempo parou e eu, petrificada, fiquei incapaz de baixar as mãos.
Não desejo a ninguém esta experiência.
Balões de hidrogénio colhidos por um veículo automóvel na Av. Ant. Augusto de Aguiar, no momento em que eu me preparava para atravessar a rua, mesmo a escassos centímetros de mim.
Será karma? Uma desagradável coincidência? Um brincadeira do destino para com a minha pessoa?
Já não há respeito por nós, os fóbicos!
E se apanho a pessoa negligente que deixou esses malditos balões à solta, nem sei o que lhe farei. Ai não sei, não...
* Para quem não sabe, eu sou provavelmente a única pessoa do planeta, que juntamente com os cães, tem fobia de foguetes, fogos de artificio, explosões de balões, bombinhas, petardos e companhia.