Sinto-me a criança que acabou de comer todas as gomas e ainda assim sente gula. Sinto-me outra vez com 18 anos, desesperada por estar a ler as últimas linhas do “Amor em Tempos de Cólera”, a desejar que o livro não termine. Sinto-me como no último exame de faculdade, em que , inexplicavelmente, me deixei atormentar por uma enorme sensação de vazio, quando percorri pela última vez os corredores da Nova. Chegou ao fim a minha série preferida... Chegou ao fim há um ano atrás e até ontem à noite, consegui adiar esse final. E não meus amigos, eu não chorei no final. E sim, caros senhores, os homens também gostam desta série! Hoje sinto-me a Miranda, com alguns resquícios de Carrie. Penso que um dia fui parecida com a Charlotte mas que hoje, no final de contas, dou por mim a admirar a Samantha. Caraças...lá vou ter que procurar outro entretenimento para as minhas noites.
Em dias soalheiros como o de hoje, geralmente dou um salto até à piscina, onde por umas horas esqueço que segunda-feira está apenas a algumas horas de distância. Geralmente tenho sorte, porque fico com aquele espaço só para mim: o meu pseudo-oásis no centro de Lisboa. Hoje, infelizmente, tive companhia: um grupo de três mulheres solteiras, esparramadas ao sol e munidas de intermináveis tópicos de conversa, que sistemáticamente foram interrompidos por chamadas telefónicas. Apesar dos esforços, foi inevitável não escutar o que diziam ou deixar de observá-las. Com um ritmo frenético e compulsivo, uma das minhas vizinhas de espreguiçadeira estabelecia ligações telefónicas com praticamente todos os números disponíveis da agenda do seu telemóvel. "Olá Maria! Tudo bem? Tentei ligar-te ontem, mas estava a meio de um jantar e ouvia-se pessimamente. Estou aqui na piscina com a Joana e a Catarina. Não queres vir cá ter? Estamos ao sol, há pouco vento e daqui a nada vamos dar um mergulho...sim...sim... estamos a pôr a conversa em dia!" Mas, em tempo real, a nossa personagem ainda se está a despir, a J. e a C. pararam de falar para não interromper o telefonema e aguardam pacientemente que a amiga desligue, para finalmente porem a conversa em dia. Ao observá-las, deixei-me levar pela minha capacidade inata de abstracção e perdi-me entre pensamentos e divagações, suscitados pelo seu modo de estar, tão parecido com o meu, tão parecido com o de toda a gente nos dias que correm. É incrível como podemos estar fisicamente, com alguém, sem que na realidade estejamos com essa pessoa. Ou , sob outro prisma de análise, podemos estar fisicamente apenas com uma pessoa e na realidade estar simultaneamente com outras 3 ou 4 pessoas. Ao invés de estarmos a apreciar o momento , ao invés de realmente estarmos, procedemos ao relato daquilo que estaríamos a fazer, caso não estivéssemos ao telefone. Independentemente do desfasamento temporal entre o que é transmitido via telemóvel e o que está efectivamente a ser feito, o que mais me transtorna é esta incapacidade de gozo de que parecemos todos sofrer. Analisamos e projectamos o presente, como se do passado se tratasse, em vez de nos resignarmos a apreciar o momento. O telemóvel deixa de ser um instrumento de trabalho ou um veículo de comunicação, passando a servir como meio de transporte, que nos permite estar em qualquer outro sitio e com qualquer outra pessoa, sem que tenhamos que mover-nos, sem que tenhamos que abandonar o mesmo espaço físico da pessoa que está sentada ao nosso lado e cujo raciocínio entretanto se perdera, entre um aviso de chamada e um bip de mensagem. No final de contas, a conclusão é inevitável: mais um dia que passou e não estivemos efectivamente com NINGUÉM. Combinámos estar com alguém, mas na realidade passámos a tarde a garantir a nossa presença com um ausente e , consequentemente, a ausentar-nos. Se calhar já passou de moda estar de corpo e alma com as pessoas, sem sermos interrompidos por sons polifónicos ou alarmes de mensagem. Se calhar não me apercebi disso... provavelmente estava ao telefone, a falar daquilo que hipoteticamente estaria a fazer, caso aquela ligação não se tivesse estabelecido.
* Nada de especulações: não é o meu pseudo-oásis que podem ver na fotografia!
Não sei se "orgulho" é a palavra indicada, ou mesmo apropriada, para descrever o meu actual estado de espírito. Julgo que poucas palavras existirão para descrever o estado de espirito de outros milhares de sportinguistas que hoje, mais uma vez e como não poderia deixar de ser, sofreram em frente a um televisor, ao escutar um relato da rádio ou ao vivo no estádio do Az Aalkmar. Parabéns aos perdedores, mas eles que perdoem : hoje a noite é do Leão, tal como as minhas palavras. Costumo dizer, em jeito de graça, que os sportinguistas são provavelmente as pessoas com a maior esperança na vida, mas sem dúvida alguma são também os que detêm a menor esperança de vida. Não há coração que resista ou pessoa capaz de permanecer indiferente. O jogo de hoje ( que infelizmente apenas ouvi relatar) e o jogo da Taça contra o Benfica, independentemente do resultado menos feliz deste último, foram jogos de susceptíveis de provocar lesões cardíacas e paragens respiratórias, capazes de arrebatar até aqueles que orgulhosamente afirmam desprezar o desporto rei. O Leão não mostrou a garra hoje, mas mostrou a sua força, a sua esperança e perseverança, o eterno acreditar... Talvez seja essa uma das características, das quais mais me orgulho ao ver o meu cartão de sócia: o eterno acreditar, a esperança, o fantástico verde. Provavelmente porque só vi o Sporting ganhar já com 18 anos, aprendi a saber estar na derrota, a apontar sem vergonha os deslizes da equipa e a querer pertencer a um clube, independentemente das suas vitórias, dos seus feitos e especialmente das suas humilhantes derrotas. Creio que o mesmo sucede com um qualquer adepto de outro clube. Muitas vezes o momento decisivo em que optamos entre apoiar um ou outro clube, apenas se deve ao meio familiar em que nascemos, aos amigos que conhecemos em tenra idade ou a palavras que de tanto serem repetidas, aprendemos a não questionar e a aceitar sem reservas. No final de contas tudo se resume ao mesmo e todos os que se deixam tocar ficam enebriados com esta paixão: o irracional, o inexplicável, a verdadeira cegueira , o fascínio da ausência de lógica do jogo, o facciosismo, o clubismo que fala mais alto e impede análises isentas. Não tento apelar aos não crentes. Tal como qualquer outra religião, gostar e pertencer a um clube é uma questão de fé, uma questão de crença, que se pode ter ou não, mas não se adquire sem mais. Hoje o SCP está de parabéns e sim, provavelmente orgulho seja a palavra adequada ao momento. Há muito que não me sentia tão orgulhosa, de peito inchado e sorriso rasgado. Mais do que Portugal, quem venceu hoje foi o meu Sporting e só eu sei o porquê de estar em casa e não no aeroporto a felicitar os jogadores. Nestes momentos, os milhares de euros que eles ganham mensalmente, parecem pouco: afinal, homens que enchem de orgulho um país e trazem felicidade a tantos milhares de sportinguistas, merecem ser recompensados. Parabéns!
<</script>Não há forma de negá-lo ou sequer de tentar contornar a questão. As vidas mudaram, os anos passaram, os fins-de-semana começam a ser utilizados para descansar, o telefone já não toca tanto. Qualquer semelhança com a vida de estudante, é pura coincidência. Em jeito de conforto, as vozes correspondentes às caras que já não vejo, repetem-me incessantemente “Não te vejo há imenso tempo... mas tenho seguido a tua vida... vou lendo no blog “. Principio do fim? O tão proclamado isolamento, a que a vida de trabalhador nos condena? Ou estão a ser apenas duas semanas conturbadas?
porque raio sou chamada de pirosa, quando assumo que gosto das canções dos Abba e recomendo o musical Mamma Mia? E pensar que, por um triz, o Cats (do Coliseu de Lisboa) quase me fez acreditar que não gostava de musicais...