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O mundo da Ch@p@

Contestação nas ruas de Lisboa

A.N, 21.06.05

Admito que passar de cavalo para burro é chato.
Confesso que quando vejo os meus direitos ameaçados, reajo, dou luta, irrito-me, reivindico.
Como tal, cedo na parte em que considero perfeitamente admissível que os funcionários públicos se insurjam contra as novas medidas do Governo.
Mas convenhamos , meus amigos, desta vez acertaram-vos no ponto fraco.
Pode ser que a partir de agora surjam novos incentivos ao ingresso na função pública que não passem por ideias como trabalhar pouco, sestas prolongadas, possibilidade de maltratar indiscriminadamente terceiros, elevadas remunerações, reformas antecipadas e desresponsabilização total por qualquer falha ou atraso no serviço ( mal) prestado.
Eu, confesso, perdi uma grande parte do desejo de fazer parte do organismo estatal.

Mas isto sou eu....

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E ainda dizem que a principal virtude de um jurista é ter bom senso

A.N, 21.06.05
"Entretanto, do ponto de vista puramente psicológico, torna-se sem dúvida mais grave o adultério da mulher. Quase sempre, a infidelidade no homem é fruto de capricho passageiro ou de um desejo momentâneo. O seu deslize não afecta de modo algum o amor pela mulher. O adultério desta, ao revés, vem demonstrar que se acham definitivamente rotos os laços afectivos que a prendiam ao marido e irremediavelmente comprometida a estabilidade do lar. Para o homem, escreve Somerset Maugham, uma ligação passageira não tem significação sentimental ao passo que para a mulher tem. Além disso, os filhos adulterinos que a mulher venha a ter ficarão necessariamente ao cargo do marido, o que agrava a IMORALIDADE, enquanto os do marido com a amante jamais estarão sob os cuidados da esposa.
Por outras palavras, o adultério da mulher transfere para o marido o encargo de alimentar prole alheia, ao passo que não terá essa consequência o adultério do marido.
Por isso, a sociedade encara de modo mais severo o adultério da primeira."


Barros Monteiro, no seu Curso de Direito Civil - (in Volume 2, Direito de Família, pagina 117)

Nós, os fóbicos!

A.N, 19.06.05
Nós, os fóbicos, vivemos atormentados com a surpresa, com o inesperado, com aquelas horas do Diabo em que somos surpreendidos pela causa da nossa fobia.
Guardamos e respeitamos a fobia de cada um, sem questionar ou emitir juízos de valor, uma vez que estamos permanentemente conscientes da cumplicidade única que nos une a esses seres e nos afasta demais.
Este é um relato “real” de um momento “surreal” .
Relativamente aquele dia , não sei precisar se Caranguejo estava no quadrante de Saturno ou se o ascendente Leão contribuiu para o efeito.
Inegável é o facto de que a conjuntura estava perfeita e veio corroborar a minha teoria da conspiração de que a nós, doentes fóbicos, tudo nos pode passar.
Caminhava eu tranquilamente na Av. António Augusto de Aguiar, maravilhoso local de betão armado e de elevadas concentrações de monóxido de carbono, quando subitamente os vislumbro.
Eram grandes, coloridos, pomposos e ameaçadores.
Dirigiam-se orgulhosos para o eixo da via, naquela pose de arrogância e ironia que lhes é tão característica.
Assustadores! Irritantes! Ameaçadores!
No momento em que aguardo a mudança do sinal dos peões junto à passadeira, faz-se sentir uma rajada de vento mais forte que os coloca a uma distância mínima de mim.
Suores, tremeliques, o reflexo de levar as mãos aos ouvidos, o instinto de protecção no seu apogeu.
Foi então que tudo aconteceu.
Os pneus derrapantes, o ranger do motor, a buzinadela.
O carro chegou a uma velocidade elevada, apanhando-os de desprevenidos.
As explosões!
Primeiro lentas, depois mais rápidas e subitamente os tiroteios mortíferos.
O tempo parou e eu, petrificada, fiquei incapaz de baixar as mãos.
Não desejo a ninguém esta experiência.
Balões de hidrogénio colhidos por um veículo automóvel na Av. Ant. Augusto de Aguiar, no momento em que eu me preparava para atravessar a rua, mesmo a escassos centímetros de mim.
Será karma? Uma desagradável coincidência? Um brincadeira do destino para com a minha pessoa?
Já não há respeito por nós, os fóbicos!
E se apanho a pessoa negligente que deixou esses malditos balões à solta, nem sei o que lhe farei. Ai não sei, não...



*
Para quem não sabe, eu sou provavelmente a única pessoa do planeta, que juntamente com os cães, tem fobia de foguetes, fogos de artificio, explosões de balões, bombinhas, petardos e companhia.

Proposta de alteração ao Hino Nacional

A.N, 18.06.05


"Alô, Alô marciano
Aqui quem fala é da Terra
Pra variar, estamos em guerra
Você não imagina a loucura
O ser humano está na maior fissura, porque...

Tá cada vez mais down no high society
Down, down, down no high society

Alô, Alô marciano
A crise esta virando zona
Cada um por si, todo o mundo na lona
E lá se foi a mordomia
Tem muito rei aí pedindo alforria, porque...

Tá cada vez mais down no high society
Down, down, down no high society

Alô, Alô marciano
A coisa está ficando ruça
Muita patrulha, muita bagunça
O muro começou a pixar
Tem sempre um aiatolá pra atolar Alá

Tá cada vez mais down no high society
Down, down, down no high society


Elis Regina

O Sentido de eleição

A.N, 17.06.05
Os cheiros são, sem dúvida alguma, mais inesquecíveis do que muitas frases, muitas caras ou lugares.
O cheiro fétido dum lago da Guiné Bissau, o cheiro de frutas maduras e maresia do Algarve, o perfume suave das camisolas da minha mãe, o cheiro das ruas de Barcelona, o odor húmido impregnado nas roupas de Barcelona.
Regressar a uma cidade que já se conhece de ginjeira, aligeira os passeios e os estados de espírito, tornando dispensáveis os roteiros de viagens, esclavagistas de tantos turistas.
Para mim, chegar a Barcelona é ainda mais do que isso. (Engraçado constatar que só hoje me sinto capaz de escrever alguma coisa sobre esta curta visita!)
É o tumulto familiar da Plaza Catalunya, são os pés sujos e calejados por palmilhar ruas e ruas de chinelas, é a humidade nos cabelos e na pele que, misturada com a poluição, nos escurece a tez durante o dia.
Mas mais do que qualquer outra memória, ainda sinto o cheiro dos fins de tarde na Barceloneta, é o cheiro das ruas do Bairro Gótico, do Raval e da Gracia, é o cheiro do metro, dos autocarros, das casas, das tapas, das claras e dos kebabs.
São odores que não incomodam, que não se estranham, que não me sinto tentada a repelir.
Cada lugar uma história, uma pessoa ou um momento, mas sempre o característico e inolvidável odor.
.

...

A.N, 16.06.05


Kunsthaus, Graz ( Aústria), Peter Cook and Colin Fournier. ( fotografia genial "gamada" escandalosamente ao site da M. )