A Av. da Índia parcialmente cortada ao trânsito. Carros imponentes e impacientes dão-lhe vida. Ela que é comummente esquecida; que para muitos portugueses é simplesmente um ponto de passagem. Hoje está em festa e isso sente-se quando por lá passamos. Gente de todas as cores e feitios espalham-se por Lisboa, enchendo restaurantes e hotéis que, uma vez mais este ano, perdem qualquer legitimidade para reclamarem da crise. O deserto a uns dias de distância. A velocidade como paixão. A imprensa mundial perplexa perante a adesão dos portugueses ao evento. Lisboa novamente na mira de milhões de cidadãos do planeta azul. Lisboa, uma vez mais, no centro do mundo, ainda que , inevitavelmente, na cauda da Europa. E ainda que me desiluda tantas vezes, hoje não posso deixar de me sentir orgulhosa dela... e orgulhosa de nós. Uma vez mais mostramos a todos que somos capazes, que temos determinação, que conseguimos organizar eventos de grande escala. Acima de tudo, por conseguirmos demonstrar a nós mesmos, o valor que tantas vezes menosprezamos, que tantas vezes descuidamos.
Depois de tanta polémica, finalmente já o posso arrumar algures entre o "Harry Potter e o Príncipe Encantado" e o "Cemitério dos Barcos sem nome" do Peréz-Reverte...
Em todos os natais de todas as famílias, há momentos singulares que se gravam na memória descritiva de cada um de nós e que são reavivados, nesta quadra , ano após ano, sem que nos tenhamos sequer que esforçar. Momentos que poderão ser aqueles em que recebemos peúgas brancas dois tamanhos abaixo dos nosso; em que recebemos a saladeira estilo Louis XIV que supostamente fica a matar na nossa sala minimalista; em que uma tia se lembra de oferecer um cordão de outro pejado a diamantes , esquecendo-se por completo de que somos alérgicos ao ouro ou ainda, quando recebemos um individual, com a menção expressa de que é para a tua casa nova. ( Não era suposto os individuais virem aos pares? Ou está-me a condenar à solidão?) Este ano, o meu natal ficou marcado por uma frase. Uma simples frase que alterou a perspectiva que, até ao momento, eu tinha acerca do evento. Após me instigarem a comer que nem uma desalmada todos os doces que enfeitavam a mesa desta honrosa e terna reunião, eis que há minutos atrás, quando me preparava para abandonar o lar paterno ( com algum alívio, diga-se de passagem!), os membros da minha família, não suficientemente satisfeitos com o facto de mais uma vez a maioria dos meus presentes configurarem uma verdadeira galeria dos horrores, decidem manifestar a sua opinião acerca da minha minúscula pessoa: “Estás bem gordinha , rapariga”. Os sonhos reviraram-se, as filhoses amargaram, os olhos lacrimejantes procuraram um ponto neutro para se fixarem, perante manifestação tão espontânea duma opinião que não havia sido pedida. Perante isto, que dizer das maravilhosas horas desperdiçadas em busca do presente ideal para cada uma daquelas alminhas, das horas de contenção perante as barbaridades proferidas à mesa durante toda a consoada ou dos sorrisos educadamente forçados ao receber presentes sem qualquer utilidade? A isto chamamos um santo natal?
A fila para a ponte já vai em Sete Rios. Os acessos quer pela Eng. Duarte Pacheco, quer pelo Monsanto estão completamente estão completamente congestionados. O “ El” Corte Inglés , às 11 da manhã, estava repleto de last minute buyers. A cabeça lateja do tempo perdido nas entregas de presentes, do nervosismo clássico do dia 23 de Dezembro, das correrias infundadas, ainda que características, da época. O Bolo Rei é demasiado pequeno e já está rijo. O cheiro a fritos já começa a impregnar o ar. Auspicio um bom Natal! Pelo menos assim o desejo. Para vocês, para mim e, principalmente, para os crentes noutras religiões que não têm que passar por este sufoco.
Sorrio perante a minha ignorância; por pensar que um dia acreditei que o México correspondia ao que as lentes amareladas do "Traffic" me mostravam e não procurar conhecer mais. Afinal há toda uma outra realidade para além dos bares de Tijuana, dos cartéis de droga, das tequillas debaixo dos coqueiros...
Lago de Chapultepec
El Zocalo ( ground "0" do D.F)
Estádio do Azteca A Casa da Bolsa Vista da cidade (vulcão desactivado)
Chegou ao ponto de não conseguir explicar se eles integravam o top dos seus melhores amigos por mérito próprio, por provas dadas de uma lealdade inquestionável ou, simplesmente, por antiguidade, por acomodação. Apercebeu-se, para sua grande surpresa, que à medida que os anos passavam, dava por si a reconhecer um verdadeiro mérito a muito poucas pessoas e que tal não a preocupava, nem a fazia sentir-se só. “Talvez este seja o lado obscuro de amadurecer...” , pensou , descontraída, enquanto sorvia o chá e observava a paisagem.
"A Rita levou meu sorriso No sorriso dela meu assunto Levou junto com ela E o que me é de direito Arrancou-me do peito E tem mais Levou seu retrato, seu trapo, seu prato Que papel! Uma imagem de São Francisco E um bom disco de Noel A Rita matou nosso amor De vingança Nem herança deixou Nao levou um tostão Porque nao tinha não Mas causou perdas e danos Levou os meus planos Meus pobres enganos Os meus vinte anos O meu coração E além de tudo Me deixou mudo Um violão"
Há algo de deprimente nos aeroportos que nunca soube explicar, mas que sempre me incomodou. Talvez não sejam os aeroportos em si, mas somente aquele ligeiro sentimento de culpa judaico-cristão que me atormenta cada vez que vou deixar alguém às partidas ou recolher alguém (radiante!) às chegadas. Porque raio é que Ele tinha que incluir a “Inveja” na lista dos pecados capitais? É-me inevitável intuir chicotes imaginários de autoflagelação por não resistir a pecar... Principalmente quando estão 8.º C em Lisboa e a senhora ao meu lado anuncia publicamente que ainda esta noite degustará uma caipirinha no Rio de Janeiro!