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O mundo da Ch@p@

Dão-nos quase tudo

A.N, 15.12.05

Pertenço àquele grupo de pessoas que não assistem a telenovelas.
Não por delas desgostar, mas apenas porque me esqueço que existem e, quando me lembro, nesta fase da vida em que há que estabelecer prioridades, prefiro ocupar o meu tempo dedicando-me a outras actividades, tais como aumentar as dioptrias em frente ao computador, chegar ofegante ao cinema, falar até ficar com os maxilares magoados ou espalhar livros e revistas pelo chão da casa.
No entanto, no zapping nocturno de ontem, apercebi-me da existência de mais uma produção novelesca da TVI, em que, de forma muito pouco original e, ouso dizer, cansativa, dois irmãos, desconhecendo os laços de sangue que os unem, resolvem enveredar por uma relação amorosa, com muito sangue, suor e lágrimas, como se espera e exige numa novela.
O J. Fermin, cuja existência foi indiscutivelmente marcada pela produção maciça de enredos novelescos ( Y Viva México!), cansado das repetições das tramas, fez-me notar que era impressionante como os autores das novelas recorrem ao plágio de forma tão vincada e despreocupada.
Atire a primeira pedra, quem de vós conhecer uma novela em que não existam dois jovens inocentes apaixonados que a meio são irmãos e mais tarde, nos últimos episódios, descobrem que afinal era tudo um equívoco; uma empregada doméstica linda de morrer ou irreverente q.b, que pela sua genuinidade e doçura de alma conquista o patrão "bonzão", outrora galã e bon vivant, vítima de uma sofisticada e sexy namorada, filha de boas e endinheiradas famílias que, não lhe tendo dado o afecto necessário, criaram um pequeno monstro que, no último episódio, sofre um acidente de automóvel, cai de um 29º andar ou muda-se de país prometendo vingança.
De referir ainda o bem sucedido e racional empresário que ao conhecer uma mulher simples e bairrista, abandona por completo a comodidade e o ambiente eclético do seu escritório para se dedicar unicamente ao amor, contrariando os bons costumes e as tradições centenárias da família.
Será que as pessoas não se cansam destes enredos? Ou será precisamente a fácil repetição e a inevitável antecipação do final que cativa os espectadores e os mantém presos em frente ao televisor, como forma de escape a qualquer esforço intelectual significativo?
No que a mim respeita, confesso gostar de marinar os miolos perante uma divertida telenovela.
Admito, porém, que seria divertido e curiosos ver uma telenovela realizada, por exemplo, pelo Quentin Tarantino.

Exemplo:

"Jovem morena esfrega o soalho com afinco quando entra a cínica loira que, fumando languidamente um cigarro, atira o fumo para a ruborizada morena, ameaçando-a de morte, caso esta não termine de uma vez por todas o romance que mantém com o "ultra cool" gangster, John D., com quem a sensual loira mantém um affair meramente carnal, desde os 18 anos, mas por quem nutre o mais forte dos amores.
Morena levanta-se do chão e do alto da sua altivez dirige-se ao teledisco onde se começa a ouvir Dusty Springfield.
Aproveitando a distracção, a loira tenta agredi-la com o cabo da vassoura esquecida no chão.
No espelho onde guarda as linhas de cocaína perfeitamente alinhadas, a morena vê o reflexo da loira furiosa e, em velozes movimentos e com reflexos transcendentais, eleva-se no ar, atingindo a sua pseudo-agressora com um pontapé rotativo, que a deixa inerte no chão da sala.
A farda de empregada dá lugar a um colante fato de lycra e a uns Gola amarelos de listas pretas.
Com um olhar alucinado, a morena sussurra ao ouvido da desmaiada morena:

"John D.? John D. o caraças. Eu vim à procura do Bill, que além de meu irmão, amante e rival, é pai do Toni, desgraçado fadista de Alfama que tem a namorada, Lisette, grávida do patrão que matou o António, pá! John´s dead baby…John´s dead."

Afasta-se. Grande plano das pernas desmesuradamente elegantes da morena que, sem olhar para trás, se dirige para a sua Harley. Fim.

Será que a NBP estaria interessada em produzir este enredo???

Oliver Twist

A.N, 12.12.05














Poderia ser mais um filme de Natal, caso não fosse realizado por Polanski.
Com o cinzento da carga dramática que lhe é característica, Polanski filma Oliver Twist sem os comic reliefs despropositados, típico dos filmes da época, que o tornariam , provavelmente, em apenas mais um filme ligeiro e infantil de Natal.
Ao invés, a história de Dickens chega-nos através de lentes realistas e responsáveis, com um talentoso elenco e uma fotografia notável.

Que atire a primeira pedra, aquele que ficar indiferente ao ternurento Oliver e à sua saga londrina!

Domingueiros

A.N, 12.12.05








Infelizmente, esta fotografia não é minha, nem tem a data de hoje.
Mas se lhe juntássemos um sol radioso, um longo passeio na marginal e uma reconfortante conversa na esplanada à beira mar, bem que poderia ser um reflexo fiel da tarde de hoje em Carcavelos.

There´s no such thing as bad publicity

A.N, 07.12.05
Depois do ataque mais feroz alguma vez feito contra a "lendária" Margarida Rebelo Pinto, o Esplanar volta à carga.
Como já ameaça tornar-se hábito na blogosfera portuguesa, desta feita a vítima escolhida foi Maria Filomena Mónica e o seu "Bilhete de Identidade".
O texto estaria fenomenal se não fosse tão atroz.
Senão vejamos:


"Há apenas duas razões, julgo, plausíveis para alguém escrever memórias: uma escrita fora de série, com uma linguagem viva e expressiva, com ângulos linguísticos diferentes, que produz gozo estético no leitor. A outra razão: tratar-se de alguém com uma vida pessoal extraordinária, atravessada por acontecimentos sociais e históricos decisivos, ou com uma grande produção intelectual que tenha influenciado o curso das ideias num país."
(...)
"Maria Filomena Mónica é apenas competente a escrever. Ou seja, não encontrei absolutamente nada que tornasse a sua escrita uma “prosa literária”. Pelo contrário, trata-se de uma prosa banal e inconsequente, sem ironia e sem garra. "
(...)
"Demasiei-me, talvez, em aspectos menores do livro de Maria Filomena Mónica. Porque o grande falhanço de Bilhete de Identidade é este: intelectualmente não tem qualquer interesse."


Gargalhadas à parte e, pese embora recomende um salto ao Esplanar, todos estes comentários, fruto de uma análise profunda da obra de MFM, apenas geraram em mim uma enorme vontade de ler o livro e de o poder julgar por mim própria.
Afinal confirma-se: não existe má publicidade.