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O mundo da Ch@p@

Match Point

A.N, 31.01.06



Sempre admirei o facto de Woody Allen, ano após ano, nos presentear com filmes, cujo personagem principal era caracterizado, invariavelmente, da mesma maneira: novaiorquino, neurótico, maníaco, com uma fraca autoestima, inseguro e com problemas de índole sexual que tenta ultrapassar com a ajuda de mulheres esplendorosamente sensuais e inteligentes que, por alguma razão desconhecida, tombam a seus pés.
E pese embora o enredo também não variar muito, a verdade é que os seus fãs nunca se cansam de ver os seus filmes repetidamente e anseiam, desesperadamente, a cada saída de um novo filme, tornando-se difícil afirmar peremptoriamente qual o mais genial de todos.
Não esquecendo o Woody inovador e refrescado de "Melinda&Melinda" e a total ausência do “seu personagem”, não pude deixar de ficar perplexa perante "Match Point".
Apesar de se tratar de um filme cujo enredo e caracterização não podem deixar de se apelidar de formidáveis; apesar do casting ter sido escrupulosamente bem feito, tal como a caracterização dos personagens da trama, a verdade é que quem procurava encontrar o Woody de "Manhattan" ou "Annie Hall" , não pode evitar abandonar a sala de cinema com uma sensação de desapontamento.
Desapontamento caprichoso, digo eu, uma vez que com Match Point, Woody evoluiu e partiu para um todo outro nível de realização que apesar de louvável e de demonstrar uma franca evolução e desejo de ruptura.

No entanto, a verdade é que nos habituou tempo demais ao seu estilo tão próprio que neste último filme, salvo melhor opinião, não encontrei nos personagens.
Como tal, quem busca o tradicional, sairá defraudado.
Ainda assim, Match Point é imperdível: pela inteligência do argumento, pela ironia do seu final, pela realização fantástica, por Londres...pelo Woody por detrás das câmeras a filmar cidades e a alma humana como pouca gente faz!

Recital de poesia Com Palavras Amo

A.N, 29.01.06

Dirigiram-se ao Rossio aliciadas pelo anúncio que uma delas tinha ouvido na Rádio. Anunciava-se uma entrada livre para um recital de poesia de Eugénio de Andrade, no Teatro D. Maria II, pela voz de Luís Machado e os acordes do piano de Bernardo Sassetti.
Chegaram com a antecedência que a elegância exige e enquanto sorviam o chá, constataram com alguma tristeza que a audiência circundante era envelhecida, apoiada em bengalas mas destemida do frio e da chuva que se faziam sentir lá fora.
Uma veio escutar as palavras do poeta que tanto a acompanhou no liceu.
A outra veio desbravar o mundo da poesia, do qual se manteve distante demasiado tempo.No espaço de uma hora, as palavras ganharam corpo, expressão e uma musicalidade que embalou os presentes que, obstinados, ocuparam cadeiras, tapetes e degraus, desligaram telemóveis e fizeram uma pausa no seu prezado sábado para ouvir poesia.

As palavras

A.N, 29.01.06

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

Y así pasan los días

A.N, 26.01.06
E assim passam os dias: encarquilhada pelo frio, pensamentos divagantes, dores no corpo causadas pela ginástica a que este já se desabituara.
À espera do calor, de dias melhores e de outros tantos piores, com um elevado nível de preguiça nos dedos e nos neurónios que me impede de escrever, de analisar, de questionar...
Os livros na cabeceira aumentam e imploram-me para serem lidos.
Não obstante, a última aventura do Harry Potter começa a assemelhar-se ao ilustre Kant e à sua porra Metafísica dos Costumes.
É mais uma fase... Se fosse artista estaríamos perante a sempre conveniente “travessia do deserto”.
Mas, como simples cidadã exemplar que declara impostos e recicla o seu lixo, não arranjo metáforas para qualificar o estado de diarreia mental em que me encontro e deixo a promessa de que tentarei alimentar os poucos neurónios .


Inté, pois!

Miranda

A.N, 20.01.06

Miranda: So why did that guy call me sexy? No one has ever called me sexy!

Carrie: Well...

Miranda: Smart, yes, sometimes cute, but never sexy. Sexy is the thing I try to get them to see me as after I win them over with my personality.

Carrie: You win men over with your personality?

Vinte e tal

A.N, 18.01.06
Ainda ontem recebi um mail duma dessas amigas tão próximas e cuja amizade data de primórdios tais que ,por vezes, confundo a história dela com a minha.
Actualmente a viver fora de Portugal, actualizou-nos em curtas linhas do seu dia a dia enquanto emigrante, dos seus planos de viagens e, obviamente, relembrou-nos das saudades que sente nossas.
Mal sabe ela a falta que nos faz e a escuridão em que Lisboa mergulhou quando ela partiu...
No entanto, saudosismos à parte, a parte mais curiosa do email, é a parte final, onde em jeito de advertência/benção escreveu:

“...Para aqueles que se vão casar e estão no meio dos preparativos e para aqueles
que têm filhos acabadinhos de vir ao mundo... coragem e força nisso!”

E então bateu-me.
Já começou... A idade adulta em todo o seu esplendor.
O cair da folha, a mudança de pele, o derradeiro golpe do cordão umbilical.
Será que enquanto o mundo gira, posso ficar escondida debaixo da cama, com o Sr. Peluche nos braços, muito quietinha e a esperar que tudo passe rápido?
Ou deixo-me de cinismos e desejo a melhor sorte do mundo a todos, recebendo-os com entradas de tâmaras e sobremesas de merengue que eu, como boa dona de casa e verdadeira senhora, serei certamente capaz de fazer?
Esta fase do quarto de século só é equiparável aos 17 anos , em que não somos nem carne nem peixe.
Não se pertence à faixa dos 18/19 porque esses já estudam na universidade e são donos e senhores de uma invejável maturidade e sabedoria a que não temos acesso.
Simultaneamente já não queremos estar com os mais novos, a fumar às escondidas na parte traseira da escola, porque começamos a ganhar noção dos infindáveis universos que nos esperam.
Aos 24/25 a visão tende a ser mais redutora e as crises de identidade mais profundas.
De uma forma geral, temos que optar por nos integrar num grupo que nos define a personalidade e o futuro, ainda que o façamos sem grande convicção e com esperança de que o tempo traga as certezas que os medos nos impedem de ver.
Eles há os que trabalham; os que se dedicam ao aprofundamento dos estudos; os que casam e têm filhos; os que não se casam mas têm filhos, os que continuam a sair à noite; os que viajam; os que não fazem nada da vida e os que gostavam de fazer mais.

Será demais querer pertencer a todos estes grupos? Ou é uma ilusão que se desfaz a partir dos 35?

Que fazer? Como diz a música " com que roupa me quero vestir?"

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