Lembrem-me de vos falar de Berlim...
Recordem-me da viagem de comboio até Munique ,dos bronzes das Schickimicki ,do Englischer Garten...
E das grandes férias que estou a ter!
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A época? Rússia de Nikolai I.
O tom? Satírico, irónico, corrosivo.
As melodias? Dissonâncias caóticas que nos transportam a outra dimensão da realidade (ou seria o absurdo da fantasia?).
Um cenário despretensioso, coreografias geniais, 25 cantores, 70 papéis e um S. Carlos acolhedor, com vestígios de outros tempos, de outras mentalidades, de outra cultura.
“O Nariz” pode ser o órgão principal de toda a trama, mas quem saiu satisfeito para o Chiado, naquela noite quente de Julho, foram os “olhos” e os “ouvidos” que há muito ansiavam por um bom espectáculo.O Chico chegou a tempo de soprar as velas, partir o bolo e valer por dois.
Os dias passaram com uma velocidade vertiginosa e o estômago, encolhido e preocupado, recusava-se a apaziguar o turbilhão emocional.
A noite, finalmente, deu lugar ao dia em que a mala foi feita, pela primeira vez, com relutância e ansiedade.
Todas as tentativas de regressar ao tom analítico e impessoal que outrora caracterizava este “spot” , têm-se revelado infrutíferas.
Os dias de reclusão, o Mundial e a pouca dose televisiva são apontados como factores determinantes para a minha falta de capacidade de análise e vêm acentuando o que mais egocêntrico transporto no meu ser.
Como tal, nem as hérnias do Freitas inspiraram os meus dedos preguiçosos, nem o meu cansaço cerebral me permite discursar sobre Guantanamo.
Juntamente com os restantes milhões de aficcionados, escrevo sobre futebol.
Sobre a vitória de Portugal ou as garras de leão do Ricardo, o descontrolo do Rooney ou a tranquilidade do pénalti do Cristiano, pouco ou nada há a acrescentar aos milhares de posts, artigos de opinião e conversas de café que apimentaram a vitória de ontem e a ressaca do dia de hoje.
Penso sim, no conceito de desportivismo que ontem, de forma polida e politicamente correcta, pautava os prognósticos do jogo, horas antes da partida ter inicio.
Questionado por um repórter, um emigrante português em Londres afirmava tranquilo que esperava que ganhasse o melhor.
Sorri perante o fair play que este gentleman luso demonstrou frente às câmeras e perante sorriso hipócrita e pouco convencido que revelou no final de proferir tal vaticínio.
Tratando-se de futebol e, principalmente, de um apuramento para as meias finais de um campeonato do mundo, quase que cai no ridículo uma afirmação destas.
Obviamente, como portugueses que somos, não queremos a vitória do que jogar melhor: queremos a vitória de Portugal.
Sofrida ou descontraída, nos 90 minutos ou nos pénaltis, com cartões encarnados ou roxos com pintinhas, o que importa é que a bola trespasse a linha da baliza e o painel mostre vantagem numérica.
O desportivismo fica bem ao seleccionador e aos jogadores, numa lógica de dever de correcção e urbanidade (ainda que fingido!), face aos adversários em campo.
Aos aficcionados, irracionais e apaixonados, nada nos é exigido, pois a única exigência a ser feita é aquela que nos assiste sob a forma de direito natural, após dias de ansiedade e 90 minutos de angústia.
Porém, aqueles há que, ingloriamente, tentam atribuir um cariz de intelectualismo ao desporto do coração.
Em Portugal, políticos, filósofos, padres, cineastas, escritores e apresentadores televisivos opinam, de forma quase que intelectualmente ofensiva, acerca o desempenho dos jogadores portugueses e das opções tácticas de Scolari.
Ofensiva na medida em que se esquecem do valor da especialização e transportam para a opinião pública, os seus desabafos de treinadores de bancada.
Opiniões essas, reveladoras de escassos conhecimentos e de amargurados e despropositados comentários que mancham de vergonha os dias de festa para toda uma nação em histeria que se borrifa para a resolução do jogo nas grandes penalidades e em tempo de fome, aperta o cinto, agarra na bandeira e vai dançar para as ruas, deixando as tristezas em casa, pois estas não pagam dívidas nem bilhetes para o estádio de Gelsenkirchen.
Esses mesmos treinadores de bancada, a quem inexplicavelmente é concedido tempo de antena, interpretam de forma errónea o conceito de desportivismo, criticando os sucessos da selecção que supostamente é nossa, enaltecendo os adversários e subestimando aqueles que realmente trabalham dentro das quatro linhas e que com os seus lances de bola lhes asseguram deslocações a Alemanha e emissões em directo de agradáveis Biergartens.
Desportivismo é saber estar bem, quer na vitória como na derrota e não se confunde com sentimentos comezinhos de quem não tem capacidade de adaptação a uma realidade desconhecida.
Ao final da noite de ontem, o povo brasileiro, entre lágrimas e gritos de fim do mundo, saltou e gritou pelo apuramento de Portugal, revelando a essência da festa do desporto.
Nós, por cá, saímos à rua e apitámos até tarde.
Na RTP, porém, so called portugueses, de cachecol ao peito e bem pagos pela sua presença, lamentavam que as “boas equipas” já tivessem sido eliminadas e criticavam, gratuita e infundadamente a selecção de Scolari, procurando um protagonismo fácil através comentários snobes e preconceituosos que, certamente, cairão em saco roto perante os verdadeiros e únicos protagonistas da tarde de ontem que já estavam a caminho de Marienfeld.
E que venha a “selecção colorida” do infeliz Le Pen!