VOLVER
Em Espanha, um pouco à medida do que sucede em Portugal com a generalidade dos filmes de produção nacional, os filmes de Almodóvar não são apreciados pela generalidade das pessoas.
Frequente é encontrarmos longas filas de espera nas bilheteiras dos filmes americanos, em contraponto às salas lúgubres e semi-vazias onde os filmes da El Deseo são exibidos.
Questionados acerca do que “no les gusta” nos filmes de Almodóvar, os espanhóis são peremptórios nas respostas: “Almodóvar só gosta de filmar o que de mais sujo e miserável encontramos em Espanha. Só filma o lado mau.”
Sem embargo, o ponto fulcral é, em minha opinião, não o abjecto que Almodóvar filma, mas a forma como o faz.
A pedofilia, o incesto, os abusos sexuais ou a prostituição são encarados pela lente de Almodóvar com uma naturalidade tal que, não fora a inquietude latente , quase nos levaria a entender e compactuar com as tramas sórdidas desta gente miserável que no
revela uma Espanha muito para além da fiesta.
“Volver” não escapa à linha tradicional a que Pedro A. nos vem habituando: envolvente, perturbador, enternecedor.
A luta de uma família ao lidar com os fantasmas do passado, os esquemas paralelos de ganha-pão de uma mulher de armas que não se pode dar ao luxo de vitimizações, o lado escuro de Madrid e a sombra incestuosa, são ingredientes que compõem talvez o melhor papel de Penélope Cruz até à data.
A ver, sem dúvida, sem preconceitos ou pensamentos demasiado críticos.
Mais uma vez, o inigualável Almodóvar a cativar-nos com as histórias que, habitualmente, fingimos não existirem.