“Deixemo-nos de realidade porque a ficção é mais bonita.”, pensara ele ao rever a fotografia que, amarelecida, apodrecia na gaveta da secretária.
“A ficção é mais maleável, mais definida, um ror de possibilidades para um final feliz.”, dissera-lhe ela no último dia em que falaram.
Conheceram-se porque assim o ditou o destino.
Apesar de, à partida, terem contribuído muito pouco para o curso de vida de cada um deles tudo parecer disparatado. Se assim não foi, pelo menos, no início assim parecia.
Partiram sem de despedir, sem se justificar, atribuindo à história um carácter inacabado, infinito, um open end dúbio que mantinha vivo aquele episódio efémero.
Não se podiam apelidar de amigos, não cresceram juntos nem procuraram fazer crescer o ténue laço que, momentaneamente, os uniu.
Mas partilhavam aquele momento, aquele momento que agora não tornavam real mas quase que aceitavam como ficção.
Tal grau de perfeição não poderia existir na tábua rasa da existência quotidiana.
E se tudo se tivesse realmente passado, como poderiam continuar a viver, sabendo que um dia tinham sido felizes?