Há filmes que marcaram épocas da nossa vida que não mereciam ainda essa designação. Não tínhamos longevidade suficiente para classificar os dias leves que viviamos como uma época. Isso acontece depois, quando em vez de fazermos coisas novas, falamos das coisas que fazíamos.
Há muitos anos atrás, nesse tempo em que os dias não consubstanciavam épocas, uma prima mais velha recortava alegremente imagens do Patrick Swayze da revista adolescente da moda e com uma maravilhosa pasta azul (o célebre Bostik) emoldurava as paredes do nosso quarto de verão na aldeia com as imagens do galã que além de actuar, dançava maravilhosamente.
O Dirty Dancing fazia as delícias da minha prima e das amigas e após inúmeras visualizações da obra, passou também a colorir o meu imaginário, onde para sempre passou a constar uma ida de férias para um country club muito chique , onde um rapaz muito cool me ensinaria a dançar como a loirinha do filme.
Anos passaram e hoje decidi reviver essa época e as férias do Johnny e da Baby.
Afinal descobri, com alguma surpresa, que o Swayze não actua, mas dança muito bem , sim senhor. Que a Baby, tal como o nome, é insípida e dengosa, mortiça e lançadora profissional dos fulminantes olhares de carneiro mal morto. E que maravilhosa descoberta foi rever o estilo inconfundível de uns keds brancos, sombrancelhas grossas e narizes desformes.
Descobri também que o Johnny , não obstante o seu estilo pindérico de motard reformado, provavelmente ainda hoje encantaria muitas mulheres com o seu ar castigador e confuso, desprezando-as e armando-se em duro, o que não deixa de ser contraditório com o seu incessante movimento pélvico.
Finalmente, percebi também o porquê do título do filme, coisa que na época em que mais o vivi me parecia ininteligivel. Hoje, porém, quase vinte anos depois, continuo a questionar a bondade do mesmo, mas não tanto como as danças libidinosas e o constante cio dos figurantes do filme.
Valeu a pena, mas há coisas que pertencem a uma época e é nela que devem ficar.