Campolide é o último reduto dos bairros-aldeia de Lisboa.
É o bairro onde os jovens, por excelência, em Agosto rumam “à terra”; onde se vai “à bica” depois de almoço e se come fiado no “Ti Joaquim”, desde que se garantam dois dedos de conversa acerca do subsidio de desemprego que teima em não chegar.
Campolide cresceu mas esqueceu-se de que está em Lisboa.
Renuncia à passagem do tempo e às inovações, defende o “diz que disse” à porta da padaria; olha com desdém para Campo de Ourique e continua a afirmar a essência do seu ex libris Pastorinha.
Ontem, porém, a modernidade, na sua acepção mais negativa, deu um ar da sua graça na aldeola da colina de Lisboa com vista privilegiada para o Monsanto.
O assalto, em si, efoi secundário. O essencial é que o bairro foi, finalmente, notícia e a partir daquele momento, o céu tornou-se o limite.
Campolide saiu à rua e com uma paciência chinesa (que certamente não reservarão para a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos), os seus habitantes aguardaram o desfeche de um enredo digno de Hollywood.
Naquele momento soube-se que a vida jamais voltará a ser a mesma.
E ceguinha seja se eu hoje não vou ao café, discutir à boca cheia, os pormenores do assalto da minha rua nos quais só eu, certamente, reparei, trocando, certamente, galhardetes, com outros tantos curiosos que ontem à noite, casualmente, passearam o cão junto ao cordão policial.