La Latina
Regressar a Madrid, além de nunca ser um sacríficio (pese embora o meu coração pertença a Barcelona e reconheça que sucumbi ao fanatismo da opção radical entre uma cidade e a outra), é sempre um momento de autoreflexão e análise civilizacional.
Onde é que nós, portugueses, errámos?
Quando é que decidimos que as ruas das nossas cidades passariam a pertencer ao bicho papão do "domínio público" e renunciámos a usufruir delas de pleno direito, como qualquer outro legitimado comproprietário o faria?
Quem decidiu que os jantares deveriam ser sentados, em restaurantes não muito ruidosos e que a contenção no diálogo seria uma virtude?
Que latifundiário alentejano decidiu que o nosso presunto deveria ser seco e salgado e que não combinava com queijo brie?
Regressar a Madrid é constatar sempre que a semelhança entre portugueses e espanhóis, contrariamente ao que parece, é na realidade muito ténue e para mim, visitar a capital espanhola sabe, cada vez mais, a saudade.
Saudade de aquilo que um dia poderíamos ter sido e daquilo que provavelmente nunca seremos.