Mais do que prático, deve ser fantasmagoricamente libertador ser homem.
Cuspir, flatular e praguejar numa vertiginosa ausência de censura e ter por garantida a total condescendência das testemunhas desses magistrais gestos de elegância.
E, mais do que ausência de saltos e depilações, poder caminhar sózinho pela rua e lançar piropos libidinosos que roçam a indecência a qualquer elemento do sexo feminino, sem necessitar do olhar aprovador e da pancadinha nas costas de um qualquer amigo compincha para se sentir legimitado na sua acção.
E assim, como se de magia se tratasse, ir à casa-de-banho durante o horário de trabalho , passa a durar mais 60 segundos.
Alguém que alerte, por favor, o mulherio que estar casada não é sinónimo de estar prenha; que ter uma barriguinha saliente não significa, necessariamente, que se aguarde a chegada de um rebento; que pelo facto de se dispor de uma barriguinha evidente não é indicativo de que esta goste de ser acarinhada por mãos de curiosos, ávidos de intrigas e de contágio de gripe A.
Tenho dito.
Na vida profissional, ter-se menos de trinta anos é sinónimo de puberdade e para este mal da tenra idade só existe uma cura: o passar dos anos.
Fora deste âmbito, porém, o cenário altera-se. Os trinta de hoje, visto pelos recém-chegados à vida adulta, tornam-se imensos, distantes, inimagináveis.
Este Sábado ofereceram-me bilhetes para o concerto dos Offspring. A alma generosa e jovem que praticou tal acto altruísta, entregou-nos os bilhetes, meio desconhecedora do grupo em causa, mas fez questão de referir que "eram uns cotas quaisquer que há muitos anos atrás fizeram sucesso".
Os muitos anos atrás ainda me parecem próximos e a música de cotas ainda faz parte das minhas vívidas recordações de festas de garagem e danças de escola.
No fundo não é uma questão de idade: é apenas uma questão de perspectiva.
Denoto um certo tom de interpelação admonitória que me faz temer as consequências de não votar no PSD...
Considero, no mínimo, arriscado deixar afixar os novos cartazes da campanha de Manuela Ferreira Leite por Lisboa inteira, sabendo que existem pessoas soltas com uma imaginação viperina como a minha...
Atingimos uma certa idade ou a idade certa se preferirmos.
O mundo já não é a nossa ostra, mas um canto de recife onde se soubermos dominar a impaciência dos anos, conseguimos sentar-nos confortavelmente e deixar que a vida aconteça.
Chegámos, por fim, à idade em que trocámos as festas pelo convívio, a cidade pelo campo, a satisfação fugaz da fome pelo deleite dos petiscos lânguidos, os gestos impetuosos e excessivos pelas demonstrações subtis de amizade.
Ouvimos, por fim, Bob Dylan e Leonard Cohen e deixamo-nos ficar relaxados, contemplativos, completos, deleitados.
Já carregamos listas de melhores filmes, melhores discos, melhores viagens e melhores histórias.
Crescemos.
E não obstante os queixumes o passar dos anos só nos fez bem.