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O mundo da Ch@p@

Questões formais

A.N, 31.01.10

 

 

O meu marido é franco-mexicano.

Em França, chama-se Y. Nes., sendo Nes. o apelido do seu pai.

No Mex. chama-se Y. Nes. Ch., sendo Ch. o apelido da sua mãe.

Em Portugal ele é simplesmente francês.

Também em Portugal, quando fui renovar o meu passaporte, perguntaram-me o seu nome completo.

 

Eu hesitei... E o momento tornou-se constrangedor.

Invictus

A.N, 31.01.10

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

 

William Ernest Henley

Preparativos

A.N, 25.01.10

 

 

Há uns tempos atrás, não conseguia conceber que existissem pessoas que antes de partirem para uma viagem, se sentassem com um guia na mão e planeassem milimetricamente o seu itinerário. Segundo a versão idílica de alguém para quem o tempo não era, naquela altura, um recurso escasso, defendia com unhas, dentes e alma impetuosa que o planeamento retira o sabor da aventura, do inesperado e das necessárias adaptações de um destino incerto.

 

Faltam cinco semanas para a próxima paragem.

 

A cada dia que passa, os planos adensam-se, os sublinhados no guia avolumam-se, a troca de emails e o calendário tornam-se imprescendíveis.

 

Com o passar dos anos, apaziguam-se as verdades absolutas.

 

Aquilo que um dia foi um desperdício, hoje torna-se um dia adicional de viagem.

...

A.N, 12.01.10

 

 

Para que os mais desatentos não caiam no erro de confundir a crítica com uma eventual falta de paixão e orgulho pelo meu país, convém recordar que em Portugal, mais especificamente em Lisboa, existem sitios assim (onde o brunch de fim-de-semana se tornou regra), esplanadas como esta  ou esta (que convidam almoços de trabalho prolongados) e milhares de lugares românticos e iniciativas de bairro simpáticas  que fazem com que este seja o lugar perfeito para se (sobre)viver.

...

A.N, 11.01.10

Ora bem, vamos lá ver se nos entendemos porque confesso que das poucas vezes que me concedo o prazer de acompanhar as notícias deste bananal acabo confusa e, de certa forma,com a minha sensibilidade jurídica molestada.

Temos portanto um país moderno que abraça maquinetas informáticas e aplicações sofisticadas que paradoxalmente se propõem a tornar-nos a vida mais simples. Nesta parte acompanho as vozes concordantes com as mais recentes políticas legislativas e respectivos apetrechos tecnológicos.

Enfrentamos um período de crise aguda, mas ao mesmo tempo que nos pedem para apertar cintos, fechos éclair e gravatas, as leis da economia justificam o aumento dos investimentos, como forma de retrair a falta de confiança dos mercados e evitar o colapso total. Porém, não temos recursos nem capitais próprios, apresentamos uma reduzida e débil estrutura empresarial, o empreendorismo só caminha com o apoio estatal e a pescadinha de rabo na boca, satisfeita, dá mais uma volta na frigideira, enquanto se cozinha uma taxa de desemprego que já ascende aos onze por cento.

Lá fora, o exemplo do endividamento externo da Grécia ou a insolvência da Finlândia são exemplos tristes que se lamentam, mas cá dentro persistimos em acreditar que tal como o cancro e os acidentes, tal só acontece aos outros.

Alegadamente, temos um eficiente ministro das Finanças, com o qual pessoalmente simpatizamos quase todos, mas que à semelhança dos amigos escorregadios da adolescência, não tem coragem (ou liberdade) de nos dizer a verdade à pergunta óbvia e proclamar o necessário: os tempos futuros deixam antever a obrigatoriedade de cortes na despesa pública, aumento nos impostos e congelamento dos salários. Mas imagem do nosso Ministro classifica-o como sério e não há nada que o Zé Povinho mais aprecie do que um homem certinho e direitinho, como modelo de virtude utópica que o Chico Esperto se vê obrigado a não poder imitar. Afinal, já dizia Wilde, por detrás de uma grande fortuna há sempre um grande crime e de boas intenções está o Inferno cheio.

Como tópico primordial da agenda política e da sociedade actual, surge agora a lei que finalmente vem corrigir um erro há muito lamentável, mas que ao arrepio dos princípio constitucionais da igualdade, pretende conceder um direito (sentindo a necessidade de o justificar como um acto vanguardista), ao mesmo tempo que restringe um direito elementar que lhe está intrinsecamente associado: o direito à formação de uma família.

Que um leigo não consiga distinguir as implicações jurídicas que esta opção acarreta, é algo que qualquer jurista consegue aceitar e condescendentemente explicar. Que forças partidárias não entendam a diferença entre a união de facto e o casamento, conforme tipificado no nosso actual Código Civil, parece-me preocupante, mas ainda assim não alarmante.

Que um Governo que legisla furiosamente como o nosso actual se rodeie de legisladores medíocres e opte por esquecer o principio do rigor que rege o direito, parece-me triste, demagógico e ao mesmo tempo lamentável.

Por último, continuo sem perceber a ausência de sentido crítico e de cidadania que premiamos neste recanto da Península. Com problemas concretos em mãos e enquanto uma grande percentagem do mundo ocidental se encontra mergulhado em plena fase de questionamento ético, cívico e político, um país que diz louvar a democracia, apresenta um superavit de opiniões que só se fazem ouvir quando os temas roçam aquilo que dizem ser os ensinamentos do Senhor e as leis elementares daquilo a que ousam chamar de natural.

Vozes mudas aplaudem e aprovam medidas legislativas que a todos afectam, directa ou indirectamente, relativamente as mesmas deveriam reinvindicar direitos de participação. Vozes gritantes exigem referendos contra aquilo que chamam de aberração, unem-se em grupos contra o aborto e uniões homossexuais, marcham e penduram bandeiras com a face de Jesus, promovem petições com milhares de assinaturas e, sem pudor ou coerência lógica, deixam passar incólumes actos que não só não os beneficiam , como renegam direitos elementares de terceiros, lhes causam prejuízos e os afectam pessoalmente, em momentos, lugares e circunstâncias que o véu da ignorância não lhes permite ver.

 

Confesso que fico confusa. Mas,curiosamente, já não surpreendida.

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A.N, 11.01.10

 

Há mais ou menos dez anos atrás, um amigo e eu recorremos a um exercício de imaginação, no âmbito do qual pusémos no papel as nossas aspirações mais secretas, relativamente àquilo que esperávamos que fosse a nossa vida dez anos depois.

Ontem, em arrumações tardias, encontrei esse rasgo de ambição e idealismo.

 

Digerido o choque, o balanço é positivo e a conclusão inevitável: o segredo não passa por se conseguir alcançar tudo aquilo que se pretende, mas sim em nunca pedir demasiado.

 

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A.N, 04.01.10

 

O primeiro dia do ano foi sóbrio e pleno de actividades desportivas.

 

A julgar pela atrás referida amostra, suspeito que 2010 será um ano atípico...

...

A.N, 04.01.10

 

Encerrar um ano não significa, necessariamente, proceder a uma avaliação do que foi feito e do ficou por fazer, nem nos obriga, forçosamente, a elencar os eternos itens adiados ou a classificar a lista dos objectivos inalcançados.
Encerrar um ano, por vezes, pode apenas significar encerrar um ciclo, uma fase, um episódio, uma alegria ou um trauma e, como tal, o sobrevalorizado encerramento a trinta e um de Dezembro é susceptível de acontecer a trinta de Abril ou Outubro.
Os melhores encerramentos são os que não comportam balanços ou liquidações; são aqueles que quase não recordamos e os quais somos forçados a recordar no momento em que constamos que algures no passado assim procedemos.
Se à meia noite do passado dia um de Janeiro tivesse comido passas, uma delas teria, certamente, sido dedicada a um desses capítulos finais.