Este hábito de escrever aos Domingos, torna a compilação de recordações uma tarefa árdua.
Após reler o último post , constato que o último relato deixou-nos em Corozal, em noites de rum e de Belikins geladas, honrosas representantes da única marca de cerveja produzida no Belize e que em alguns bares e restaurantes daquele país é, aliás, a única marca de cerveja disponível.
Continuando a análise daquele território novo e não sendo possível evitar comparações, é quase inevitável dizer-se que o Belize pouco ou nada tem em comum com os demais países da América Central.
Ao contrário do que sucede no país vizinho México e do que julgo que sucede na Guatemala (na altura em que visitámos a Guatemala estes pensamentos não me ocupavam a mente), no Belize as regras do monopólio aplicam-se.
À semelhança do que sucede com o jogo de tabuleiro que freneticamente disputávamos quando éramos pequenos, alguém um dia passou na casa partida, teve sorte com os dados e comprou aquilo que em termos de indústria e serviços, seria, no tabuleiro do Monopólio, ocupar as casas verdes, azul escuro, encarnadas e amarelas.
Ou seja, no Belize, o proprietário da única fábrica de cerveja, era igualmente proprietário da rede de telefones (posição que cedeu ao governo inglês, com displacência dizem, há uns anos atrás) e controla, actualmente, os mais importantes serviços do país. Se acrescentarmos a tudo isto, um país cuja única indústria e exportação consiste na extracção de cana-de-açúcar (não controlada pelo mesmo senhor, mas pela Tate & Lyle que é rainha e senhora), temos o resultado inevitável de preços inflaccionados ( que em alguns casos são equiparáveis aos preços praticados em Portugal) e a existência necessária de mercados paralelos como forma de sobrevivência.
Por outro lado, convém não esquecer que tratando-se o Belize de uma ex-colónia britânica, o salero latino quase que se torna dificil de encontrar, não fossem os seus habitantes renegarem abdicar das origens e hábitos dos países vizinhos.
A viagem continuou com uma visita a Lamanai, ruínas maias exclusivamente acessíveis por rio.
Para chegar Lamanai, impõe-se uma paragem em Orange Walk, terra de ninguém e poucas vistas, mas onde reside o embarcadouro que nos leva a uma viagem de cerca de duas horas e meia, num leito estreito e verdejante, onde centenas de espécies de pássaros escolheram residir, juntamente com outras tantas espécies de cobras e crococodilos que não tivemos o privilégio de vislumbrar (com excepção de um minúsculo crocodilo adormecido que podemos jurar ser de plástico e ter sido colocado propositadamente pelos guias da viagem!).
Ao longo do rio, para além das paisagens fantásticas, encontrámos pescadores prazeirosos em embarcações pereclitantes, barcos que transportam cana-de-açúcar que bloqueavam a passagem e, para surpresa de incautos como nós, várias comunidades amish que sob a autorização do governo do Belize, se instalaram no norte do país, onde isolados do mundo, auto-suficientes e abençoadamente isentos de impostos, residem em comunidades apátridas e deslocadas, não apenas da realidade do país em que por acaso se encontram, como do tempo e hábitos do século vinte e um.
A nossa curiosidade perante tais comunidades foi recebida com reciprocidade e poucos fomos os que conseguimos disfarçar os olhares fixantes quando horas depois nos cruzámos com famílias inteiras na subida a uma das pirâmides mais altas de Lamanai ou nos seus trilhos irregulares.