Alugar um carro em Israel, como tarde descobri graças ao conselho de uma amiga experiente naquelas bandas, é provalmente a forma mais fácil e cómoda de viajar em Israel. Os preços dos carros, com gps incluído, rondam os 70 dólares e as estradas são facilmente navegáveis. A este propósito recordámos com um sorriso irónica as auto-estradas russas, onde os letreiros, exclusivamente em cirílico, obstaram a caminhos rápidos e directos. Em Israel, contudo, os letreiros encontram-se escritos em hebraico, árabe e inglês, o que torna o próprio gps dispensável na maioria dos percursos.
No dia em que decidi visitar Jerusalém, sózinha pela primeira vez na minha vida, troquei o conforto do carro por três autocarros israelitas, pejados de jovens a cumprir o seu dever militar, trabalhadores e estudantes que nos sucessivos trajectos entre Tel Aviv e Jerusalém me ensinaram como ultrapassar as barreiras de segurança com agilidade e destreza, fazendo uso dos cotovelos e das minhas pequenas, mas esguias, mãos.
A este respeito, tenho que alertar que o trajecto entre as duas cidades tarda cerca de uma hora e um quarto, mas convém sempre acrescentar uns 10 minutos devido aos sistemas de controlo de armas.
Da estação central de Jerusalém que fica situada numa zona bastante afastada da Cidade Velha, o autocarro número 1 e/ou 2 levam-nos a essa zona histórica, por entre solavancos e eternos semáforos preguiçosos.
Para aqueles que aguentam bem o calor, sugere-se a entrada na cidade velha de Israel pela Porta Oeste, nas traseiras do mítico Muro das Lamentações, com vista para o cemitério judeu do Monte das Oliveiras.
Aquela porta, porém e de forma enganosa, não nos conduz ao Muro das Lamentações, não obstante os corredores que separam os homens das mulheres como sucede no referido muro, mas sim ao Monte do Templo, local sagrado para todos os credos e que aos não muçulmanos e judeus, mais do um local de culto, permite um momento de pausa, reflexão e silêncio impossíveis de alcançar nas estreitas, caóticas e vigorosas ruas da Cidade Velha.
O calor naquele lado da colina não dá tréguas e a porta reserva-se o direito de abrir a horas especificas (o que no dia em causa sucedeu às 12.30), motivo pelo qual garrafas de água e um lenço para a cabeça são companheiros indispensáveis de jornada.
Abandonando o Monte do Templo, irremediavelmente perturbados pela eventual possibilidade de um dia a Porta Dourada se abrir para dar passagem ao Messias, podemos mergulhar no bairro árabe, deixar-nos embriagar pelo toque no Muro das Lamentações, seguir à esquerda até à Porta de Jaffa e Cidadela de David ou percorrer as ruelas à direita e procurar a Igreja do Sagrado Sepulcro.
Se as intermináveis ruelas lambirinticas podem não deixar impressionados aqueles que já antes conheceram mercados árabes, o mesmo não se poderá dizer da atmosfera tensa, mas simultaneamente espiritual de Jerusalém, do fervor dos crentes, da convivência, nem sempre pacífica, entre os habitantes daquela cidade, de origens e culturas profundamente enraízadas e antagónicas.
Percorrer a Via Dolorosa e tomar consciência que o que a Cidade Velha tem para nos oferecer nos dias de hoje se distancia milenarmente da sua arquitectura original, na medida em que sucessivas guerras e ocupações eliminaram rastos e edificios de civilizações anteriores e que a sua parte
parte moderna guarda recordações impróprias para a sua idade e uma parafernália de hábitos e costumes ancestrais, converte a visita a Jerusalém num passeio à história da Humanidade e à essência da alma humana.
Ou talvez fossem apenas os meus olhos solitários que enfatizaram imagens que aos olhos dos locais, lamentavelmente, apresentam cores muito diferentes.