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O mundo da Ch@p@

Nada como a caminhada até casa para ter histórias para escrever

A.N, 25.10.11

 

 

Até ao empurrão violento que levei esta tarde de um transeunte apressado e totalmente absorto na música que escutava e que não me concedeu sequer o direito a um fugídio e tímido pedido de desculpas, acreditava que caminhar com os phones nos ouvidos me abstraía, de forma saudável, da realidade, qual panaceia de final de dia.

Afinal, não sou apenas eu a quem a música abstrai e distrai.

A sensibilidade sensacionalista

A.N, 14.10.11

 

Assenta nas boas almas como um vestido de bom corte: disfarça as imperfeições, acentua a beleza e, principalmente, faz-nos sentir muito elegantes.

A sensibilidade sensacionalista ( ou publicamente partilhada), à semelhança da caridadezinha, é ainda mais bonita quando praticada a longo alcance,  brilhando mais quando os holofotes alumeiam o seu caminho. E, por isso, muitas vezes é esquecida quando surge a oportunidade de a revelar/praticar com aqueles que nos estão mais próximos.

 

Posto isto, não compreendo os profundos elogios fúnebres e comentários de pesar pelo desaparecimento de figuras públicas do mundo actual, divulgados amplamente em  redes sociais, por carpideiros que nunca tiveram o prazer de privar com os defuntos, nunca lhe ofereceram um café ou um aperto de mão firme.

Carpideiros esses que no dia a dia não apenas não acompanham o choro de quem lhes está próximo, como no turbilhão dos seus pequenos detalhes quotidianos não se mostram sensíveis ao que os rodeia, e em especial, àqueles que os rodeiam.

Apenas um ser desprovido de sensibilidade e de compaixão  poderá deixar de se pasmar e entristecer com o desaparecimento prematuro de alguém. Não consigo, porém, compreender como os valores basilares de humanidade/amizade apenas ganham importância em eventos globalmente discutidos e os gentios politicamente sensíveis se conseguem aproveitar destes tristes eventos para acariciar ainda mais o seu ego gelado e para acreditar na falsa bondade perfeita das suas pessoas.

Madeira

A.N, 11.10.11

 

Pai e filha conversam durante o café.

"É uma pena, de facto, os Açores não ofereceram meios suficientes para que pessoas da vossa idade possam visitar sítios como a Fajã da Caldeira de Santo Cristo. Podiam arranjar a estrada e garantir transporte até à lagoa. Assim vocês ficavam a conhecer...", diz a filha.

O pai responde: "Tenho pena de não ir conhecer, mas no dia que os Açores se modernizarem, corremos o risco daquilo se transformar na Madeira."

Filha, após breve momento de reflexão: "Sim...e nós não queremos isso, pois não?"

 

Midnight in Paris

A.N, 03.10.11

 

Ernest Hemingway: "All men fear death. It's a natural fear that consumes us all. We fear death because we feel that we haven't loved well enough or loved at all, which ultimately are one and the same. However, when you make love with a truly great woman, one that deserves the utmost respect in this world and one that makes you feel truly powerful, that fear of death completely disappears. Because when you are sharing your body and heart with a great woman the world fades away. You two are the only ones in the entire universe. You conquer what most lesser men have never conquered before, you have conquered a great woman's heart, the most vulnerable thing she can offer to another. Death no longer lingers in the mind. Fear no longer clouds your heart. Only passion for living, and for loving, become your sole reality. This is no easy task for it takes insurmountable courage. But remember this, for that moment when you are making love with a woman of true greatness you will feel immortal."

Da amizade

A.N, 03.10.11

 

O título em português é convidativo e familiar. Qualquer pessoa, em qualquer momento e por muito que se tenha em muito boa conta, se pode identificar com um singelo "pequenas mentiras entre amigos".

 

Traduzir, literalmente, o título original não teria certamente o mesmo impacto (Les petits mouchoirs - os pequenos lenços) e certamente afastaria das salas mentes cinéfilas pouco exigentes, como a  minha, que apostam em trailers enganosos e em elencos pomposos, em detrimento de grandes realizadores e inovadores fotógrafos (sem prejuízo deste ser um filme com a assinatura de Guillaume Canet).

 

Para os fiéis seguidores dos "Amigos de Alex", as pequenas mentiras entre amigos acabam exactamente no mesmo ponto de onde partiram os amigos do desafortunado Alex. Contudo, contrariamente ao que sucede com aquele grupo que parte para a Carolina do Sul para assistir ao funeral do amigo aglotinador e revive uma intimidade outrora perdida e saudosa, no filme as "pequenas mentiras entre amigos", os personagens rumam ao sul de França, para umas férias manchadas pela sombra de um acidente atroz que deixa prostrado o inevitável "melhor amigo de todos eles".

 

Os personagens desta história são íntimos, intensos, algo egocêntricos e desesperadamente hipócritas. Mas, acima de tudo, são assustadoramente reais, fazendo jus ao cinema francês e à simples realidade que só ele sabe retratar.

 

Este é o tipo de filme que apenas merece ser visto por quem o consiga realmente apreciar. E, correndo o risco de estar a ser injusta, parece-me que apenas quem ousa realmente conhecer os meandros da amizade e já se viu confrontado com o cínismo dos trinta, o consegue fazer.

 

A não perder enquanto ainda está nas salas de cinema.