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O mundo da Ch@p@

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A.N, 12.04.12

Uma das primeiras lições que aprendi quando comecei a trabalhar é que não existem maus profissionais. Pelo menos, os que o são, jamais o admitem.

 

Existem trabalhadores injustiçados, pouco reconhecidos e os obcecados. Maus trabalhadores nunca. Desmotivados, talvez, mas sempre por culpa do patronato.

O mundo do trabalho é um misto de laboratório científico e de palco de teatro. Todos actuam, mas na realidade não conseguem fugir à essência humana, o que dá material que sobra para realizar experiências laboratoriais de foro sociológico.

 

Na verdade, todos acreditamos ser bem melhor do que somos e em especial do que fazemos. Acreditamos ser mais justos, mais ponderados, mais inteligentes e generosos do que somos na realidade. Talvez por todos vivermos em estado de semi-inconsciência, seja por isso difícil aceitar, por um lado, críticas de terceiros e, por outro, os pequenos dissabores com que a vida nos presenteia.

 

Por regra, as fraquezas não se assumem e as imperfeições, custe o que custar, disfarçam-se. Somos divertidos, quando a ocasião ajuda e hipócritas quando as coisas não correm de feição.

 

Somos, especialmente, muito fortes e corajosos quando a situação discutida não nos afecta ou não nos diz respeito.

 

No fundo, somos todos uns sobreviventes e apesar das diferenças, somos afinal muito mais parecidos do que achamos.

 

Considerações sociológicas à parte, regresso ao ambiente laboral para concluir que não existem trabalhos bons. Existem, por vezes, empregos maus.

 

Katekero

A.N, 10.04.12

 

Campolide é um bairro curioso, onde o silêncio sepulcral com que se brinda um golo do Sporting é mais ameaçador que os gritos viscerais emanados a cada remate falhado do Benfica.

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A.N, 08.04.12

Cá em casa perdemos o hábito de ver telejornais. Digo perdemos, quando na realidade sinto que fomos forçados a eliminar esse hábito, geralmente qualificado como bom.

Os telejornais, nos tempos em que eram sérios e não se nivelavam pela mediocridade da sociedade, permitiam-nos de forma fácil e utopicamente directa tomar conhecimento dos acontecimentos mais importantes do panorama nacional.

Hoje em dia, o que constitui um acontecimento importante, é difícil definir. Assume igual prioridade uma vitória esmagadora da Selecção Nacional, um acidente rodoviário num túnel na Bélgica, a desertificação do interior, um duplo homicídio passional e o diz-que-disse político, incongruente e desalinhado com o bode expiatório da troika.

Surpreendentemente, falar bem e dar sinais positivos parece ser fatela ou no mínimo sensaborão.

De há um ano e meio para cá, assistir a telejornais tornou-se um desafio nacional, quiçá ainda maior e duro do que sobreviver às medidas de austeridade ou a um inverno sem chuva.

Assistir a telejornais e manter a sanidade mental, tornou-se uma tarefa árdua, quem sabe até impossível.

As notícias más chegam a todo o lado, é certo, mas chegam ainda mais rápido a quem não só as tem que viver, como relembrá-las ao final de um dia de trabalho que apesar de mal pago, na opinião dos senhores jornalistas, é exactamente o que merecemos e é melhor do que nada, pois mil euros por mês são suficientes para que uma grande parte da população seja considerada rica, do desemprego ninguém sai e o futuro não existe aqui.

Abstrair das novidades torna-nos menos críticos, é certo, mas sem dúvida alguma permite-nos ser mais felizes.

As notícias leiam-nas os emigrantes, para que ainda consigam acreditar que ainda se recordam de como é viver aqui.

Brain drain

A.N, 05.04.12

 

"Espero que São Paulo te tenha recebido bem , de braços bem abertos e sorrisos rasgados (...) Não te esqueças de contar como é que tudo está a correr por aí. Mas peço-te que não me contes demasiado, sob pena de ficar a morrer de inveja e ciúmes dessa cidade que roubou de nós ."

 

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A.N, 04.04.12

 

Cada vez que vou a Madrid, é inevitável não comparar o crescimento e a movida daquela cidade com a parábola das Bodas de Caná. À semelhança da multiplicação do peixe, pão e vinho, em Madrid multiplicam-se espaços culturais, de diversão, bares, restaurantes e cafés em espaços ínfimos.

Bairros degradados convertem-se em espaços de desfile de moda, locais que atraem restaurantes trendy e gente cosmopolita que vive a vida como apenas os espanhóis.

Os lúgubres matadouros dão lugar a centros de criatividade e inovação, onde a cultura e a veia artística é promovida.

E , na mesma cidade, as tabernas do antigamente com beatas e lixo no chão, convivem harmoniosamente com a realidade da vertiginosa modernidade.

 

Ninguém vive como os espanhóis.

Afinal, hay que tenerlos, para saber levar para a cova o melhor que esta passagem tem para oferecer.

 

 

 

 

Mercado de San Antón

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A.N, 03.04.12

 

Houve um tempo em que este blogue vivia.

Agora, apenas com uma grande luta e severa insistência, consegue sobreviver.