Ontem à noite, na RTP 1, passou um telefilme português, acerca das práticas de "bullying" nas escolas nos dias de hoje.
Uma versão soft, na minha opinião, especialmente se comparada com outras histórias de terror psicológico e desfechos dramáticos, como por exemplo a história de Amanda que neste momento choca o Canadá. Ainda assim, o telefilme da RTP perturba, especialmente pais que se preparam para pôr no mundo e nesta sociedade mais um cidadão.
Como protegê-lo q.b e educá-lo para sobreviver num ambiente hostil, onde agressões destas fazem sistematicamente páginas dos jornais ?
O bullying não é um fenómeno actual, nem um produto da internet ou da era moderna.
Uma exemplar prova da violenta e perversa psique infantil encontra-se retratada no filme "Senhores das Moscas", baseado no livro de William Golding que ainda hoje me faz ser céptica, em relação à bondade e alegada inocência intrínseca dos mais pequenos.
Nos primórdios dos anos 90, as "bullies" da minha escola gozam com as meninas que não se vestiam com as marcas da moda, criavam jogos em que ridicularizavam as suas famílias, escolhiam vítimas aleatoriamente, as quais graças Deus apenas usufruíam desse estatuto por um limitado período de tempo. Não havia forma de prevenir ou detectar precocemente a ameaça. Da mesma forma que era quase inevitável que num ímpeto de sobrevivência as vítimas se aleassem às agressoras no ataque a outra presa.
Não havia internet, é certo, mas existiam comentários maldosos propagados intencionalmente nas cadeiras e mesas das salas de aulas, nos corredores e paredes da escola. Existia ainda manobras de terror psicológico e esquemas de alienação social.
Ao menos valia-nos a rotatividade: a velocidade em que um agressor se convertia em vítima era estonteante, o que fazia jus à expressão que dita que não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe.
Existiam meios menos agressivos de perseguição, é certo, mas também existiam carapaças mais duras, pais mais atentos, avós disponíveis, professores mais alerta. Apesar disso, se bem me recordo, ainda assim se sofria.
Viajando no tempo, torna-se díficil sentir saudades da adolescência. E mais díficil ainda pensar que um dia teremos que preparar um outro ser para a enfrentar e sobreviver.