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O mundo da Ch@p@

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A.N, 05.10.12

 

Não percebo nada de economia. As aulas de microeconomia eram passadas a jogar à batalha naval e as de macroeconomia na Costa da Caparica. Economia internacional só se tornava apelativa quando discutíamos o preço da importação das bananas e de gadjets electrónicos.

 

Leigos em matérias económicas, como eu, existem de certeza milhares de portugueses.

Não dominamos a mão invisível do Adam Smith, não conseguimos aferir o impacto económico de um aumento percentual na despesa pública, não conseguimos avaliar a bondade das novas medidas de austeridade. Assim, como leigos e cidadãos de boa fé, resta-nos acreditar que estamos a ser liderados por políticos, técnicos e economistas sabedores que sob pena de hipotecar o futuro dos nossos filhos e netos (o nosso futuro já está, à partida, condenado) tomam decisões difíceis, mas lamentavelmente necessárias.

 

Existem, porém, algumas coisas que um leigo contribuinte severamente penalizado não consegue ignorar, que é o tratamento de cidadão de segunda que nos tem sido concedido pela classe governante (actual e passada). Menosprezar a inteligência do cidadão, já se viu, não é uma medida inteligente (recorde-se, a propósito, as enchentes do 15 de Setembro passado) e tratar-nos com condescendência, como o fez Vítor Gaspar no seu discurso do lanche das três da tarde, também já não pega.

 

Alguém que explique ao senhor Ministro e em especial à equipa que o assessora que frases como " este é o caminho da liberdade e da responsabilidade política, é o caminho que assegura o futuro de Portugal" apenas resultam em discursos demagógicos norte-americanos, onde se tolda a razão com apelos ao coração e à virtude.

 

Nós, os leigos, podemos não perceber de números. Mas sabemos que não há liberdade sem dinheiro e a responsabilidade política, tal como a responsabilidade criminal dos que contribuíram para a derrapagem económica que hoje nos estrangula, são conceitos vagos, indeterminados e essencialmente estéreis num país como Portugal, onde a culpa morre solteira e se silencia com depósitos em offshores.

 

No mínimo, tratem-nos com respeito para que depois da passagem da troika nos reste alguma dignidade.

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