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O mundo da Ch@p@

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A.N, 28.05.13

É curiosa a perspectiva sob a qual as questões de mobilidade da cidade de Lisboa são encaradas. Temos colinas íngremes, ruas estreitas e curtas avenidas e talvez sejam essas as vicissitudes que condicionam o pensamento das grandes mentes que definem a circulação na capital e que dão primazia máxima ao conforto dos automóveis que por cá circulam.

 

Para um peão ou um residente das zonas imediatamente periféricas ao centro da cidade (leia-se, Marquês, Castilho e Rato), a sensação incómoda com que se fica é que estorvamos. Estorvamos o trânsito das vias rápidas em que as nossas ruas residenciais se transformaram, numa tentativa simpática e hipotética de dar algum descanso ao Marquês e à Joaquim Augusto de Aguiar e permitir vistas desafogadas aos turistas, estorvamos os senhores que têm pressa de chegar ao escritório, estorvamos ao querer estacionar perto de casa, mas a Cãmara Municipal decidiu que a zona será de jardins e os carros, bom, que fiquem nas garagens ou noutro sítio qualquer, mas por favor, não incomodem.

 

Vivo numa zona sem metro, praticamente com apenas dois autocarros.

 

De um ano para o outro, instalaram nas redondezas uma universidade, um hospital, um centro-comercial e muito caos.

A minha rua transformou-se num delírio automobilistico , com as não saudosas obras do túnel das Amoreiras.

Atropelamentos sucedem-se, estacionamentos em terceira fila também.

Ninguém faz rigosamente nada. Nem sequer parar nas passadeiras.

É uma maçada, lá está. Uma grande maçada licenciar edifícios e depois ter que lidar com o facto de aqui viverem e trabalharem pessoas.

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A.N, 22.05.13

Isto de voltar ao mundo dos adultos tem que se lhe diga.

Por instantes, caí na ingenuidade de pensar que o regresso era bom, que serviria de lufada de ar fresco, que seria desafiante e essencialmente menos rotineiro.

Volvidas três semanas, cai a mancha no mais alvo pano: no mundo dos grandes o ar não é fresco, mas pesado; as rotinas não são desafiantes, mas simplesmente angustiantes, a rotina acaba por se instalar de qualquer maneira, desta feita não sob a forma de cinco refeições esquematizadas em rotinas inquebráveis, mas sob a forma de emails, bandeiras prioritárias, opiniões jurídicas e respetivos imbróglios.

 

O mundo dos adultos não nos faz sentir grandes: apenas nos dá vontade de voltar a ser pequeninos. O mundo dos adultos é complicado porque as pessoas falam muito e na maior parte das vezes não dizem nada.

 

O mundo dos adultos é cocó e qualquer dia não me importava nada de rebentar a bolha.

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A.N, 05.05.13

Constatações do dia:

 

Dia dos Namorados: o dia que apenas se valoriza quando se está solteiro.

 

Dia da Mãe: o dia que só sabemos que existe quando estamos na escola primária ou quando temos um filho.

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A.N, 05.05.13

A primeira vez que vi a série "Sexo e Cidade" era caloira na faculdade ou talvez ainda estivesse a terminar o liceu, não consigo precisar.

Via todos os episódios a sonhar com Cosmopolitans que nunca tinha bebido, enquanto sonhava - provavelmente com metade da população feminina no mundo - em ser uma das quatro senhoras, tão independentes, estilosas, mundanas, bem sucedidas e a viver uma vida tão adulta.

 

Mais tarde, revi todas as temporadas. Muitos episódios foram vistos como se da primeira vez se tratasse. Afinal, com dezoito anos e apesar de muitas certezas, não se sabe nada da vida, muito menos de pessoas. Mas uma coisa mantinha-se igual: a curiosidade pela vida em Manhattan, de pessoas muito adultas.

 

A Fox Life está a passar novamente toda a série e constato que as quatro senhoras, na primeira temporada, têm, supostamente, trinta e poucos anos e já nada parece tão adulto.