Retrato de família
Quatro irmãos, uma casa grande e férias bem passadas na lezíria ribatejana.
Cada um trilhou o seu caminho.
Cresceram, casaram, tiveram filhos.
Anos mais tarde, encontraram-se todos no funeral da mãe.
Já não se conheciam e entreolhavam-se com desconfiança.
As férias da lezíria , os banhos na Nazaré e as brincadeiras de crianças estavam agora guardados num recanto da memória onde, orgulhosamente, não tocavam.
Ainda assim, apesar de se desconhecerem, não faziam qualquer esforço de aproximação, porque as defesas estavam montadas e muita água já havia corrido por debaixo daquela ponte.
Uniram esforços para que a cerimónia fosse breve, para que o pai permanecesse acompanhado e até decidiram almoçar todos, em jeito de união de família desastrada.
E, enquanto os observava, apercebi-me como a incapacidade de expressar afectos pode manchar as vidas de tantas famílias e escrever as linhas do destino de tantas pessoas.
Se conseguissem dizer “Gosto de ti” e os abraços fossem sinceros e não rígidos, provavelmente estes desconhecidos teriam muito que falar, provavelmente as acções ficariam para quem as faz e, provavelmente, os seus filhos teriam recordações da lezíria e do mar da Nazaré.