Em terras lusas...
A.N, 15.02.05
Até hoje não sei se acredito no milagre de Fátima.
Custa-me aceitar os fenómenos paranormais, opto pela distância e por uma fingida indiferença e assim vivo tranquilamente, sem questionar nada nem me decidir por uma qualquer posição radical.
Ainda assim, não deixam de me impressionar as procissões intermináveis de Fátima, com milhares de pessoas possuidoras de uma fé imensa, que ao contrário de mim não questionam, não põem em causa, não se mantêm indiferentes e que acima de tudo não escolhem a cadeira mais cómoda do distanciamento.
Não sei se acredito no que aconteceu na Cova de Iria, mas tal como todos os lugares associados a manifestações divinas , a energia que se sente aí é muito positiva e especial.
Poderá ser um sentimento intuído , por crescer num país onde a história dos 3 pastorinhos nos foi servida a todas as refeições.
Porém, com toda a azáfama comercial em redor do Santuário, custa-me acreditar que ali se consiga estar verdadeiramente com Deus ou sentir a sua presença.
Cepticismos à parte, emocionei-me hoje ao ver as orações fervorosas daqueles crentes que se deslocaram à Sé Nova de Coimbra para prestar a última homenagem a Lúcia, única sobrevivente dos 3, falecida (curiosamente!) a 13 de Fevereiro.
Custa-me no entanto vê-la partir e sentir que soubemos sempre tão pouco acerca dela... Uma vida de reclusão, longe de tudo e todos, sem família, sem contacto com a vida real, orando incessantemente para a salvação de um mundo que mal conheceu, por obstinação da Igreja Católica que optou por escondê-la.
Terá sido cumprida a vontade da Senhora? Ou, mais uma vez, simplesmente a vontade dos homens?