Dias "de" música
Durante cinco dias por semana vivo num universo sem música. Num universo sem partituras, acordes ou escalas de sol; num universo onde a música nos chega em desabafos escondidos, trauteados com pudor.
Nesse universo privilegiam-se sons de telemóvel e intrigas de vão de escada que ironicamente desconcentram muito mais do que as melodias que tanta falta me fazem.
A música tem vários dons, existindo, inclusive, terapias que a apregoam como milagrosa. Um dos principais encantos da junção mágica de improváveis acordes consiste em transformar uma pintura cinzenta numa verdadeira explosão de cores, invocando, ao mesmo cenário, paisagens, estados de espírito e reflexões múltiplas. A música consegue, ainda, isolar-nos em momentos de multidão; consegue abstrair-nos do supérfluo e juntar os mais insólitos casais, em redor de uma melodia comum.
A música é uma bênção. De que me alimento e de que sinto falta.
Este sábado dediquei-o a ela, numa celebração que atraiu milhares de pessoas como eu, a anfiteatros convidativos e confortáveis, onde a música foi rainha e centro de todas as atenções.
O CCB encheu-se de curiosos e connaisseurs, de visitantes e habituais, de músicos e melodias, de magia, agitação e celebração.
As bênçãos não existem para ser omitidas; escondidas ou sufragadas. Existem para ser celebradas, todos os dias, a todas as horas e em todos os gestos.