Conteúdos ofensivos - II estirpe
Está reformado há dois anos e desde o dia em que removeu todos os seus haveres da secretária do Ministério, arrependera-se da decisão que tomara.
Demasiado novo para estar sem fazer nada e, ironicamente, demasiado velho para iniciar uma actividade.
Mas Vítor gosta de ler; compra o "Correio da Manhã" todos os dias e não perde o telejornal da uma e das oito.
Preocupa-o a criminalidade e culpa os brasileiros; os moldavos, aquela coisa do Schengen, cujos termos desconhece mas sabe ser responsável pelas ondas de violência das gasolineiras e do carjacking do Montijo.
O filho do vizinho que percebe de computadores e lhe instalou o plasma com blue ray que comprou em promoção no Media Market, incentivou-o a instalar internet em casa e a manter-se informado acerca do mundo através da internet.
Rapidamente lhe apanhou o jeito e hoje fala, aos fins-de-semana com os netos que vivem no Canadá e a quem, não obstante, continua a não conseguir reencaminhar os emails com as piadas picantes que a Sónia, uma vintona com quem acredita manter um jovial flirt , lhe envia todos os dias.
Descobriu a possibilidade de comentar os artigos do Público e identificou-se imediatamente com o tom de censura e superioridade moral: afinal, o lobby gay e os judeus dominam o mundo e o Valentim Loureiro é um homem, cujas virtudes se sobrepõem, largamente, aos defeitos.
"São a vergonha nacional" , comenta sem dó nem piedade.
"Espanquem-se os juízes para ver se soltam esses gatunos em três horas".
"A Fátima Felgueiras ao menos fez algo pelo povo da sua terra e isso é muito mais do que aqueles que se dizem sérios podem dizer."
Desliga o computador porque está na hora de ir aparar a latada.
O seu contributo para a sociedade já está lançado.
E no final do dia , acredita piamente que se ao menos todos fossem como ele, este país andaria para a frente.