Um domingo de chuva
A visita a uma feira de mobiliário , enquanto criança, funcionava como um maravilhoso passeio após um jantar prematuro, findo o qual regressava a casa saciada de gente e confusão, carregada de sacos de brochuras, brindes e catálogos esquecidos, durante dias, na mesa de entrada.
Anos passaram e a mesa de entrada já não se entitula de tal forma: transformou-se numa consola, onde já não nos esquecemos dos catálogos e brindes da feira, mas sim de um amontoado de chaves e carteiras, cartas e reminders.
Na sala, já não tenho um móvel, mas sim um aparador gigantesco, o qual não se torna claustrofóbico devido ao alto pé direito da casa .
O mobiliário branco tornou-se lacado e a outrora conhecida como placa de vitrocerâmica diz-se que agora é induzida.
Os anos passaram e a feira perdeu o brilho das infimas possibilidades de aquisição que alimentavam as visitas de meninice.
A terminologia passou-se a conjugar com os orçamentos e as mãos já não regressam cheias de catálogos: apenas a cabeça cheia de ideias e um bolso demasiado pequeno para poder acomodá-las.