Quotidiano
Um advogado enfrenta, diariamente, inúmero desafios, sendo que na maior parte dos casos, estes consistem em perguntas: perguntas variadas de uma panóplia infindável de temas; perguntas menos fáceis; perguntas incómodas; perguntas de estratégia, perguntas interesseiras, perguntas interessadas, perguntas descabidas e oportunas, mas sempre ou quase sempre, perguntas para as quais não existem respostas directas, fáceis, peremptórias.
Paradoxalmente, um advogado, aos olhos dos leigos das matérias legais (que por sua vez e exactamente devido à sua ignorância jurídica e capacidade de julgamentos velozes, acreditam piamente pertencer uma classe moral e eticamente superior), é uma pessoa que deve ser encarada com desconfiança, com algum distanciamento e desconforto, como aliás se encarados os profissionais daquelas áreas com quem se contacta não por prazer ou curiosidade, mas devido a necessidades dolorosas que não deixam margem para outra opção.
Assim, por uma questão de silogismo lógico, se um advogado enfrenta milhentas perguntas por dia; se ninguém acredita no que ele diz; se os restantes cidadãos nobres que se dedicam a ciências exactas, em acréscimo às funções honrosas que desempenham, pertencem a um nível superior de moralidade, inevitavelmente concluimos que só escolhe ser advogado quem sofre de severas perturbações mentais, gosta de ser colocado em causa e olhado com desconfiança.