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O mundo da Ch@p@

Black

A.N, 12.07.10

 

 

Não é que as coisas não tivessem importância. O problema é que tinham demasiada.

Um tudo ou nada diário, noites que decidiam os dias e dias que marcavam vidas, onde a moderação não tinha lugar e a razoabilidade não fazia sentido.

Éramos adolescentes e sentiamo-nos profundos, donos de uma sabedoria e maturidade que a vida adulta considera luxos.

A música era tudo e tudo se reconduzia às letras que sabiamos de cor e anotávamos nos diários que nunca ninguém leu e que hoje nos envergonham, ao recordar-nos aquilo que a memória selectiva da sobrevivência nos fez esquecer.

Naquela noite, todos nos sentimos outra vez com quinze anos.

A julgar que sabíamos viver porque fumávamos sem tossir. A julgar que sabiamos querer, porque não podíamos conceber outra forma de amar, a entregar de bandeja corações e inocências, sem consciência de que aquela seria a última vez que o faríamos.

Foi a época de todos os problemas, numa época em que estes, na realidade, não existiam.

Não sabíamos nada, mas queriamos tudo, com uma certeza derradeira, arrebatora, imutável.

Foi a época em que os episódios que hoje, presunçosamente, classificamos como insignificantes, nos tornaram naquilo que somos e nos impedem de ainda acreditar que um dia seremos aquelas pessoas que aos quinze anos quisemos ser.

 

O fundo da tela da memória é negro, mas ao recordar, escolhemos hoje as cores com que o queremos tingir.

 

 

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