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O mundo da Ch@p@

Diário da nossa paixão?

A.N, 04.11.10

 

 

É surpreendente como os mais simples sucessos de bilheteira podem mudar a nossa concepção do mundo e das relações humanas, especialmente se consumidos em dose massivas em plena pré-adolescência.

Uma história simples, um amor díficil e exacerbadas demonstrações públicas de afecto, temperadas com inverosímeis desencontros, mentiras e um eterno final feliz, de preferência com dois velhinhos de mãos dadas que continuam a amar-se loucamente cinquenta anos depois de casados.

As paixões que duraram meio século e que tive o privilégio de até agora conhecer são escassas e carregadas da sua dose de obcessão, obstinação, irracionalidade e masoquismo. Se é nisto que se converte o amor febril que nos tenta vender o Nicholas Sparks, prefiro um xanax e um bom livro para garantir a tranquilidade da terceira idade.

Os amores que conheço, na vida real, são substancialmente mais sensaborões. E aqueles que recorrem com frequência a desproporcionadas proclamações de amor, das duas umas: ou são sol de pouca dura ou os microfones abafam os sons da discórdia que ousam fazer-se ouvir nos momentos de alegado conforto relacional.

Que o diga o JG, um dos rapazes sensação do meu liceu que um dia, cansado de nos fazer suspirar nos corredores com o seu look James Dean, resolveu chegar mais cedo à escola e afixar em todas as paredes, postes e quadros disponíveis um "Cristina, adoro-te!" para uma insípida adolescente meio grunge que não obstante reagiu como uma estrela de cinema e atirou-se-lhe aos beijos assim que passou o portão da escola.

O namoro daqueles dois começou ali e ainda durou uns anos.

Quinze anos passados, porém, constato que a Cristina há muito que deu um chuto no cú do JG; JG já engordou uns quantos quilos; a Cristina continua insípida e francamente menos bonita, quem sabe até casada com aquele que provavelmente hoje jura amar como nunca amou ninguém, mas que continua sem conseguir dar-lhe verdadeiramente aquilo que ela precisava de encontrar num marido.

Isto para dizer que não há amor que resista sem paixão, nem amor que possa viver sempre em paixão.

A felicidade não se proclama, nem sente necessidade de o fazer. Da mesma forma que os contos de fadas apenas se cristalizam na ficção.

O amor é um bolo de côcô morno à espera do teu regresso; uma casa cheia de gargalhadas e a inscrição dos nossos nomes nos livros da nossa estante.

Pode não fazer ensopar lenços de papel, mas faz-nos pensar na próxima vez que discutirmos.

 

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