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Aos vinte e muitos anos, poucas coisas têm a capacidade de nos fazer abalar o ego do que o sucesso de alguém da nossa idade.
Não que o sucesso alheio não incomode qualquer pessoa, independentemente da idade, uma vez que acredito, ou talvez seja apenas a minha censurável má formação moral a falar, que este deixa sempre um quase indelével sabor a cobiça nos lábios secos , provavelmente de tanto falar e de pouco fazer.
Parte-se então para as justificações do momento, para a indulgência gratuita e reconfortante.
Se a pessoa bem sucedida é mais jovem ou tem muletas paternas, o desconforto torna-se relativo ou pelo menos facilmente justiticável: é bem sucedido porque pertence a outra geração; porque tem contactos; porque tem dinheiro, porque tem um atrevimento geracional ao qual a nossa educação tradicional não nos permitiu aceder.
Se o sucesso provém do facto desse alguém ser desportista, as medalhas que alcança devem-se, provavelmente, a uma condição física incomparável e lutar contra a genética é um esforço inglório.
O problema coloca-se quando o sucesso alheio apenas se explica pelo esforço e determinação.
E se o crédito que dão ao miúdo dos vinte e muitos se encontra justiticado pelo trabalho árduo de que abdicámos e pelos sacrificios que não fizemos?
Justificamo-lo com a tristeza que a pessoa aparenta e a presumível alienação social e com o apanágio da vida simples e sorridente.
Mas, se o sucesso, afinal, não se mede em títulos e extractos bancários, porque razão o fruto do quintal do vizinho parece sempre mais apetecível do que aquele que acabámos de colher do nosso jardim?