Porque não há escola que nos prepare para estas lições
Táxi. Três da tarde.
Avenida da Liberdade. Trânsito congestionado e vias cortadas.
A cidade vendida ao desbarato e o Marquês de Pombal decapitado por um galo gigante, da óbvia marca Continente.
Taxista: "Oh menina, sabe que isto é tudo por causa do mulherio. Vêm todas para aqui à procura do príncipe encantado, percebe? E depois dá neste pandemónio!"
Menina: "Principe encantado? Pensava que vinham todas ver o Toni."
Taxista:"E vêm! É isso mesmo, ver o principe encantado do Toni. O homem põe-nas malucas..."
Menina:"Lá isso é verdade, sim senhor."
Taxista: "É que sabe, tenho andado a pensar nisto há algum tempo. Desde aquela vez que fui mais um grupo de moças e moço para uma dancetaria ali para os lados da Amadora e no final da noite lá se deu uma zaragata e fomos todos para casa. Eu fiquei no quarto, a ouvir uma guitarrada de Dire Straits que na altura gostava muito e ali, nos meus pensamentos, apercebi-me que o que as mulheres querem e precisam de um homem romântico, um homem carinhoso que lhes dê miminhos e faça surpresas e que chore quando tiver que ser.Qual é a vergonha de um homem chorar?"
Menina: "É verdade, sim senhor."
Taxista: "Mas uma mulher, ao mesmo tempo, também precisa de um homem magano. Percebe? Um tipo que além dos mimos seja magano debaixo dos lençois e...olhe...lhe mande umas valentes pinocadas, sabe? E este Toni é assim. Daí este pandemónio e as mulheres andarem todas malucas."
Pausa.
Semáforo encarnado.
A menina pede recibo e abandona o táxi sem olhar para trás, considerando, porém, redefinir antigas noções de contos de fadas.