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Cá em casa perdemos o hábito de ver telejornais. Digo perdemos, quando na realidade sinto que fomos forçados a eliminar esse hábito, geralmente qualificado como bom.
Os telejornais, nos tempos em que eram sérios e não se nivelavam pela mediocridade da sociedade, permitiam-nos de forma fácil e utopicamente directa tomar conhecimento dos acontecimentos mais importantes do panorama nacional.
Hoje em dia, o que constitui um acontecimento importante, é difícil definir. Assume igual prioridade uma vitória esmagadora da Selecção Nacional, um acidente rodoviário num túnel na Bélgica, a desertificação do interior, um duplo homicídio passional e o diz-que-disse político, incongruente e desalinhado com o bode expiatório da troika.
Surpreendentemente, falar bem e dar sinais positivos parece ser fatela ou no mínimo sensaborão.
De há um ano e meio para cá, assistir a telejornais tornou-se um desafio nacional, quiçá ainda maior e duro do que sobreviver às medidas de austeridade ou a um inverno sem chuva.
Assistir a telejornais e manter a sanidade mental, tornou-se uma tarefa árdua, quem sabe até impossível.
As notícias más chegam a todo o lado, é certo, mas chegam ainda mais rápido a quem não só as tem que viver, como relembrá-las ao final de um dia de trabalho que apesar de mal pago, na opinião dos senhores jornalistas, é exactamente o que merecemos e é melhor do que nada, pois mil euros por mês são suficientes para que uma grande parte da população seja considerada rica, do desemprego ninguém sai e o futuro não existe aqui.
Abstrair das novidades torna-nos menos críticos, é certo, mas sem dúvida alguma permite-nos ser mais felizes.
As notícias leiam-nas os emigrantes, para que ainda consigam acreditar que ainda se recordam de como é viver aqui.