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Nunca antes estes pés tinham percorrido ruas tão a leste.
Não foi a primeira vez que a barreira da língua, a barreira cultural e a gastronómica exigiram esforço. Mas foi, sem dúvida, uma das viagens onde os horizontes mais se alargaram, sem se fazer por isso, sem que pudéssemos ter adivinhado.
Aterrámos em Pequim no dia que o Verão chegou a Lisboa. À nossa espera, aguardava-nos uma densa neblina que rapidamente perceberíamos que na realidade se trata de smog permanente que durante toda a nossa estada nunca nos permitiu ver o sol ( e de Lisboa chegavam mensagens de praia e petisco!).
Para quem anda há nove anos a tentar explicar que a Cidade do México não é tão poluída como se rumora, chegar a Pequim foi um alívio: finalmente ganhei um ponto de comparação imbatível.
No quotidiano ocidental, as cidades da Ásia são pouco comentadas e quando o são, os comentários resumem-se à elevadissima densidade populacional e ao caos de bicicletas que proliferam nas ruas apinhadas de carros. Uma coisa é certa: hoje em dia, com o crescimento abrupto destas cidades e o nível tardio de desenvolvimento ecológico, as principais cidades chinesas e indianas há muito que destronaram metrópoles como a Cidade do México, São Paulo ou Bogotá no concurso das cidades mais poluídas do mundo.
Indo sem grandes referências, Pequim foi uma surpresa. As semelhanças das suas avenidas principais com as avenidas de Moscovo são inevitáveis, mas a sua organização, as suas ruas ordeiras e limpas, a construção desenfreada e a ausência de grandes aglomerados de velocípedes foram as primeiras surpresas com que nos defrontámos.
Com o passar dos dias as surpresas foram outras: o sorriso fácil das pessoas, o ritmo frenético das suas vidas, o seu orgulho imenso pelo seu país, hábitos antigos a tentarem coabitar com uma evolução tecnológica desenfreada e os apelos consumistas.
Da perspectiva de um turista, não se pode alegar conhecer a China, sem se visitar Pequim.
E desengane-se o ocidental que julga entender os chineses, sem antes visitar a China.