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Este fim-de-semana estivemos num resort, desses cheios de nomes sumptuosos em inglês, na zona Oeste (o nome, para efeitos deste post, é irrelevante).
As instalações do referido empreendimento são modernas, sofisticadas, confortáveis e espaçosas, permitindo aos hóspedes dias de descanso e, principalmente, dias de luxuosos silêncios, caso esta seja a modalidade de férias pretendida.
É, contudo, um empreendimento perdido no meio do nada e de tão perdido que está, a sua gerência parece ter esquecido que as suas três designações em inglês, campos de golfe e milhentas piscinas não bastam para que o mesmo seja elevado à categoria de luxo.
Antigamente, no tempo das "vacas gordas", onde estranhamente este tipo de empreendimentos hoteleiros não proliferavam, como actualmente sucede em Portugal, quase que bastava substituir o letreiro com a expressão "Rooms, chambres" ou "Residencial" por "Hotel" para elevar qualquer estabelecimento com um tanque nas traseiras e um pequeno-almoço buffet a um empreendimento hoteleiro de quatro/cinco as estrelas.
Os tempos mudaram e os negócios tornaram-se sofisticados. Os terraços foram substituídos por "rooftops", as black trinitrons por lcd´s e leds, os pequenos-almoços buffet por brunches.
O que outrora era considerado um luxo, hoje em dia é apenas o indispensável para atrair hóspedes e garantir confortáveis taxas de ocupação.
Nos dias que correm e principalmente no contexto actual, parece-me que o diferencia os serviços não é o elenco extensivo dos mesmos, mas a forma como estes são colocados à disposição dos clientes. E, no resort onde estivemos, o cliente, pela forma como é tratado, não passa de um número, que varia consoante a actividade, as noites de permanência, o número de pães que ingere, o tipo de habitação em que pernoita.
Fazer o check out foi confuso, os valores pré-anunciados não coincidiam com os valores cobrados, os funcionários agiam com desconfiança e o estado "zen" em que mergulhámos durante dois dias foram rapidamente substituídos por irritação, o que me levou a ter vontade de escrever este texto.
Considero que o luxo, nos dias de hoje, consiste num serviço de excelência, no tratamento personalizado, especifico, atencioso dos clientes. Independentemente do preço, independentemente da nacionalidade, preferências e/ou tempo de estadia ou número de serviços usufruídos pelos clientes.
Não dispor deste elemento diferenciador, nos dias que correm, parece-me não apenas uma grande burrice, como um suicidio económico, na medida em que o sucesso de qualquer negócio não reside na angariação de clientela, mas na garantia da sua fidelização.
Gostei muito do resort dos três nomes pimpões. Mas enquanto em lembrar do episódio do check out (que no final de contas é a última recordação que fica) nunca mais me lá apanham.