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As reuniões de condóminos parecem-me ser um dos ambientes mais hostis que um cidadão mediano, possuidor de uma vida banal, pode experienciar, pelo menos uma vez por ano, num qualquer dia útil e num horário absurdo.
Não basta que estas tenham geralmente lugar em salas de reuniões a cheirar a mofo e humidade, como os seus participantes inevitavelmente dividem-se em guerrilhas semi-organizadas: os prejudicados, os forretas, os indignados, os justiceiros, os possuidores de sentido cívico e comunidade, os que esmiúçam os orçamentos e contas apresentados e todos os outros, os que vão para o frete, e que apenas se dignam a comparecer quando na ordem de trabalhos consta alguma matéria que os possa afectar.
Poucos se cumprimentam, sussurram-se estratégias conjuntas, partilham-se feridas de guerra, criticam-se anteriores administrações e as vindouras, reclama-se da falta de cooperação dos condóminos ausentes.
A primeira convocatória é inexistente, a segunda é vivida com ansiedade.
Ontem, aqui nospot, à hora marcada para a segunda convocatória, não foi possivel reunir o quórum necessário para realizar a reunião e deliberar sobre os primeiros três pontos da ordem de trabalhos.
Os beligerantes mostram-se desapontados.
Os do frete visivelmente aliviados.
Tivesse havido quórum, teria havido sangue. Juro.