corte e costura
Pertenço aquela raça estranha de pessoas que ao ver um conhecido do outro lado da rua ( leia-se , conhecido. Não me refiro a amigos!), é dominada pela preguiça e timidez .
De certeza que os psicólogos já inventaram um nome para esta patologia .
Ou seja...fujo, finjo que não vejo, não tenho paciência para ir falar, invento artimanhas para não ver e ser vista.
Detesto conversas de circunstância, porque não passam de isso mesmo: daquela circunstância sinistra em que por casualidade nos encontramos naquele preciso momento.
Fico nervosa por não ter muito que contar, irritam-me os silêncios incómodos e tira-me do sério discutir o estado do tempo.
A situação complica-se ainda mais, quando a pessoa a quem vislumbramos não é simplesmente um mero conhecido, mas sim um conhecido que tem um poder sobre-humano de nos irritar.
Muitas vezes por inúmeras e intermináveis razões, muitas outras vezes apenas porque sim.
Hoje tive um desses encontros!
Desses que despertam irritabilidades porque sim.
Mas desta vez a conversa fluiu: fiquei a saber que “ando à paisana”.
Pode parecer estranho este comentário, mas foi exactamente isto que ouvi e passo a citar: “Olá, olá. Por aqui então? Mas a menina está à paisana!”
Como tenho reflexos lentos, fiquei sem perceber e sem responder convenientemente. Mas o meu interlocutor prosseguiu: “ Está vestida de um modo muito descontraído para quem está a trabalhar num escritório de advogados .”.
Urge dizer que se tratava de um rapaz...
Quase em simultâneo o meu cérebro começou a produzir a seguinte lista de questões:
1) É a roupa que faz o Homem ou o Homem que faz a roupa?
2) Mais vale parecê-lo do que sê-lo?
3) Há algum traje obrigatório nos Estatutos da Ordem dos Advogados?
4) Um fato negro torna-nos mais inteligentes / competentes?
5) Oferecem subsídios para a aquisição do mesmo?
6) Não era suposto só as mulheres ligarem a roupa?